© Ivo Lima/ME
Juma, o filhote de onça abatido por soldados do Exército em Manaus, após ter se soltado das correntes que a prendiam, durante a cerimônia da passagem da Tocha Olímpica por Manaus, em junho, virou caso de Justiça. O Ministério Público Federal (MPF) do Amazonas entrou com ação civil pública na Justiça para que o Exército seja obrigado a pagar uma indenização de até R$ 10 milhões por danos morais.
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A ideia era expor Juma no evento por duas razões: para divulgar a riqueza ambiental do Amazonas e também pelo fato de que o animal é um dos símbolos do Comando de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), unidade de elite do Exército que ajuda na vigilância das fronteiras na região.
A onça se soltou das correntes quando era levada pelos tratadores à viatura de transporte. Apesar do disparo de dardos tranquilizantes — dos quatro apenas um atingiu o animal —, a onça avançou em direção dos militares. que não tiveram alternativa e dispararam dois tiros de pistola na cabeça. O incidente comoveu todo o Brasil e foi replicado pelas redes sociais no mundo.
Relatório do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) revela que Juma foi utilizada no evento sem autorização para transporte e apresentação na cerimônia. Na ação, o Ministério Público Federal também observa que o Exército não tinha licença expedida pelo órgão ambiental para manter animais silvestres em cativeiro no Comando Militar da Amazônia. Por último, o MPF solicita à Justiça a proibição de exibição de animais silvestres em eventos públicos.
O presidente da Organização Não-Governamental (ONG) Arca Brasil, Marcos Sian, lembra que todo o triste desfecho dessa história tem um quê de ironia, isso porque Juma chegou à unidade do Exército pelo fato de sua mãe ter sido abatida vítima de caçadores. Ele lembra que a unidade presta um serviço inclusive a pesquisadores que estão atuando na preservação dessa espécie.
"Por algum motivo não foi feito um trabalho de devolução do animal ao seu habitat. Por ironia do destino, o mascote foi usado para ilustrar o orgulho deles (militares) na passagem da Tocha Olímpica."
Para Sian, o que está em discussão é o desejo de exibir animais silvestres como uma forma de dizer: ‘Eu detenho essa natureza.’
"O que fica é uma grande lição ao brasileiro: que o poder público possa cuidar devidamente de sua grande riqueza que é a fauna silvestre, a mais rica biodiversidade do planeta e que está sob muitos aspectos carente e precisando de ajuda. O animal silvestre é tutelado pelo Estado e você não pode tê-lo como um pet. Aí a gente fala de hábitos, cultura."
O presidente da ONG lembra que é muito comum o brasileiro criticar a Espanha pela tourada, não comer carne de cavalo e não ver algumas incoerências próprias. O que um estrangeiro pensaria, segundo ele, do grau de desenvolvimento de nossa sociedade ao ver passarinhos presos em gaiolas?
"Estamos falando de uma mudança de mentalidade que o brasileiro esta tendo, de que o lugar dessa fauna é lá no habitat, que deve ser preservado." Com informações da Sputnik Brasil.