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Na última quarta (31), o taxista Allan de Souza, 24, saiu de casa às 4h para trabalhar e só voltou às 18h, como costuma fazer todos os dias.
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Morador da favela São Remo, vizinha à USP, estacionou seu táxi na universidade, perto de um dos acessos à comunidade. "É mais fácil deixar ali do que na porta de casa, moro a 200 metros", diz.A primeira surpresa foi às 19h30, quando gritaram por seu nome:
"Allan, tem um ônibus pegando fogo e o seu carro está do lado".
O segundo choque foi descobrir que a principal hipótese da polícia é que o ataque que destruiu seu táxi tenha partido de seus próprios vizinhos da São Remo, em retaliação à morte de um morador pela PM após um assalto a uma residência no Jardim Bonfiglioli (zona oeste de SP).
Naquele dia, Allan, motorista de frota, sentia-se disposto a trabalhar ainda mais, mesmo após 14h no volante. Depois de estacionar, foi tomar banho, jantar e descansar antes de voltar ao batente.
Enquanto ele estava em casa, porém, 30 pessoas atiraram pedras e pararam um ônibus na USP, obrigando motorista, cobradora e passageiros a descerem. Elas atearam fogo no veículo.
O coletivo saía do terminal da Cidade Universitária em direção ao Parque D. Pedro 2º, no centro. O motorista do veículo disse que pelo menos três pessoas estavam armadas.
Allan correu até o local. A primeira reação foi tentar se aproximar para conter o fogo e tirar o carro de lá. Os vidros do ônibus estouraram e ele recuou. Tentou mais uma vez: outra explosão. Desistiu.
"Não tem pé nem cabeça fazer isso. Quem está sendo prejudicada é a própria comunidade, que fica sem ônibus, mal vista", disse à reportagem. "Não fiquei nem bravo, mas chateado mesmo. Não tenho como trabalhar", diz.
"Não tem como não saber que o táxi era meu, todo mundo me conhece", afirma. Ele diz que não foi procurado por nenhum morador oferecendo ajuda ou alguma compensação pela perda do veículo.
Na troca de tiros relacionada ao ataque, morreu José Alef Rodrigues dos Santos, morador da São Remo. Outro suspeito foi internado no Hospital Universitário, e um terceiro está foragido.
BLOQUEIO
O trânsito foi bloqueado próximo ao local do incêndio, impedindo ônibus de chegarem à parada perto da São Remo. Moradores da comunidade e trabalhadores da USP sofriam com a falta de transporte nesta quinta (1º).
Foi o caso do servente de pedreiro Gilson Mendes, 33, que foi à pé para casa. "Até o próximo ponto vou gastar uns 20 minutos, se eu for direto chego em uns 45", diz ele, que mora na Vila São Domingos.
A corretora Sabrina Belnuovo, 39, foi levar o filho Yuri, 16, que reclamava de dor nas costas, ao HU. Com ou sem dor, tiveram que caminhar 30 minutos porque os coletivos não chegavam ao local.
"É um absurdo. Eles têm a revolta deles e a gente é que paga o pato?" O bloqueio deve permanecer até o fim da tarde desta sexta (2). Com informações da Folhapress.
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