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Em meio a shoppings sofisticados e apartamentos milionários, em uma área nobre da zona norte de Porto Alegre (RS), um colégio público com 740 alunos de classe baixa resiste. A Escola Estadual Gomes Carneiro obteve a melhor média no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2015 entre as escolas estaduais do Brasil, com 582 pontos -a nota é mais alta que a dos colégios da rede privada. Salas e pátio da escola ficam alagados quando chove. Há banheiros com problema de fiação elétrica, faltam reparos nas paredes, portas e chão.
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A verba de merenda está atrasada há seis meses. Em setembro, os pais dos alunos doaram R$ 567 para que a escola pudesse preparar as refeições. Como se não bastasse, o governador José Ivo Sartori (PMDB) parcela, há oito meses consecutivos, os salários dos professores. "Nossas dificuldades são as mesmas enfrentadas por todas escolas estaduais", conta a diretora do Gomes Carneiro, Susana Silva Souza, 50.
Mesmo assim, nenhum dos 54 professores aderiu à greve da categoria. Além disso, os alunos não ocuparam a escolas, como as mais de cem instituições gaúchas que foram tomadas por estudantes como forma de protesto pelo descaso do governo, em maio deste ano. "Nossa forma de protestar é mostrando o nosso melhor", diz Susana.
Para a professora, algumas características explicam o sucesso da escola no Enem: baixa rotatividade, participação dos pais e incentivo à leitura e escrita. Os alunos costumam ingressar no colégio ainda crianças, na primeira série do ensino fundamental, e apenas saem quando já são quase adultos, no final do terceiro ano do ensino médio.
"Temos até uma medalha, a 'Prata da Casa', que os alunos mais antigos recebem no último ano", conta Selma Mendes, 57, secretária do Gomes Carneiro.
Os alunos participam de atividades extraclasse, como gincanas e festivais, durante toda vida escolar. No sábado (8), por exemplo, 30 alunos do colégio participarão da Olimpíada de Química do RS. "Os estudantes do primeiro ano [do ensino médio] estudam conteúdos do terceiro ano para poderem participar", conta Susana.
A escola tem fama de exigente, o que acaba atraindo principalmente alunos que levam os estudos a sério. "Eles mesmos formam grupos de pesquisa. Se alguém só quer brincar, acaba excluído", diz a diretora. Muitos alunos viajam de outras cidades da região, como Gravataí, Alvorada, Guaíba e Eldorado do Sul para estudarem no Gomes Carneiro. Diversas crianças são beneficiadas por programas como Bolsa Família, do governo federal, de acordo com a diretora.
Outro fator que colabora com as notas altas é a participação constante dos pais. "A gente se comunica por Whatsapp direto. A gente avisa sobre qualquer coisa que acontece", relata Selma. As reuniões com os pais são mensais. "Não é só para entregar o boletim e fazer reclamação", diz a diretora. Também são os pais que ajudam em atividades como idas aos museus, cinema e teatro.
O incentivo diário à leitura e escrita faz com que os alunos do colégio dominem a prova de redação do Enem e as demais questões que exigem interpretação. Os alunos do terceiro ano escrevem pelo menos duas redações por semana.
Já na primeira série, assim que são alfabetizados, as crianças precisam fazer fichas das leituras dos livros. "Vários alunos vieram me mostrar a nota mil na redação do Enem, fora as demais notas acima de 900", comemora a secretária da escola. Com informações da Folhapress.
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