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Diariamente, ao menos nove pessoas morrem em decorrência de intervenções policiais no Brasil, de acordo com dados do 10º Anuário de Segurança Pública. Realidade completamente oposta têm os países europeus.
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Um levantamento feito pelo jornal britânico "Guardian" em 2015 registrou 55 disparos fatais na Inglaterra e no país de Gales entre 1990 e 2014, entre uma população de 56 milhões de pessoas (equivalente à soma dos Estados de São Paulo e Paraná).
A cada seis dias, o número de mortos pela polícia no Brasil se iguala a essa marca atingida em duas décadas e meia no Reino Unido.
A Islândia, uma gélida ilhota no norte do continente, tem um recorde ainda mais invejável. Em 72 anos apenas uma pessoa morreu por um disparo policial. O país tem cerca de 320 mil habitantes (menos do que Jundiaí, em São Paulo).
De tão inusitada, a única vítima policial na Islândia tornou-se notícia, em 2013. A polícia em seguida pediu desculpas à família do atirador, que havia disparado contra as forças de segurança.
Segundo os estudos de Paul Hirschfield, professor de sociologia na Universidade Rutgers (EUA), uma das explicações para a baixa mortalidade por disparos policiais na Europa se deve ao fato de que parte das forças de segurança não estão armadas nesse continente.
A maior fração da polícia do Reino Unido, por exemplo, não carrega armas.
"A polícia é forçada a encontrar saídas não letais, o que lhe dá mais legitimidade", disse à reportagem. "O público vê os policiais como funcionários, e não inimigos."Também é relevante que o treinamento policial seja longo e centralizado (três anos na Noruega, afirma), reforçando as instruções sobre o uso das armas de fogo. "Os policiais europeus são treinados como profissionais."
Hirschfield aponta que a Convenção Europeia de Direitos Humanos, que entrou em vigor em 1953, condena toda a violência policial extrema.
O texto da convenção diz que o uso de força potencialmente letal está restrito a um conjunto bastante restrito de circunstâncias. Em resumo: apenas quando for necessário para proteger uma vida.
No Brasil, os policiais também são alvos de assassinatos. Segundo o anuário, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ao menos um é morto diariamente durante o expediente ou fora dele.
CIRCUNSTÂNCIA
O contexto de ação dos policiais europeus é bastante distinto do americano, onde há mais acesso a armas de fogo, e também do brasileiro.
Para Hirschfield, isso significa que os policiais já esperam deparar-se com pessoas armadas quando estão a serviço, o que faz com que eles decidam mais rapidamente recorrer à violência.
Além das fatalidades resultantes dos disparos, o Reino Unido registrou outras mortes causadas pela polícia.
A Comissão Independente de Queixas Policiais informou à reportagem que houve, entre abril de 2015 e abril de 2016, 14 mortes durante detenções ou como sua consequência. Houve também 60 suicídios após as detenções e 20 acidentes de tráfego (por exemplo, durante uma perseguição policial). Com informações da Folhapress.