© REUTERS/Daniel Becerril
Para o ex-presidente mexicano Vicente Fox, a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos alinha o país com lideranças populistas na América Latina, como os irmãos Castro em Cuba, o falecido Hugo Chávez na Venezuela e os Kirchner na Argentina.
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Em comum, todos eles disseram à população o que ela queria ouvir, prometendo coisas que, uma vez eleito, não poderá cumprir, na visão de Fox. O "brexit" (saída do Reino Unido da União Europeia) e a vitória do "não" no plebiscito sobre o acordo de paz entre a Colômbia e as Farc seriam outros exemplos de avanço do populismo no mundo.
"Trump enganou as pessoas. Conseguiu votos por meio de mentiras e enganos. Agora ele vai ser posto à prova. Vamos ver como ele vai conseguir dar empregos, o que vai fazer quando o muro não for construído. O populismo é muito perigoso porque engana as pessoas, promete coisas que não podem ser cumpridas", diz Fox, que presidiu o México entre 2000 e 2006.
Embora o Brasil hoje não esteja sendo atingido pelo problema, o país é onde mais faltam no mundo "lideranças honestas que saibam conduzir uma economia e um país", afirma.
Ele também se disse surpreso com a votação do eleitorado de origem latina, em que uma parcela significativa optou pelo nome republicano. "Com certeza são aqueles que vivem há mais tempo nos EUA, são gente pouco generosa e pouco patriota, porque não pensaram em seu país, na ofensa que sofremos", diz.
O ex-mandatário mexicano estava em conferência sobre comércio e investimentos em Dubai (Emirados Árabes Unidos) quando a vitória do republicano foi confirmada. Sua primeira reação diante da notícia foi afirmar de que "o México não vai pagar pela porra do muro", referindo-se à barreira que Trump prometeu erguer na fronteira entre os países para conter o fluxo de imigrantes.
Um dia após a vitória do empresário, Fox suavizou o tom. Em entrevista a jornalistas, ele disse acreditar que o peso da responsabilidade do cargo fará Trump mudar sua postura e abrir mão de suas bandeiras de campanha mas polêmicas, como a construção do muro e a saída do Nafta, o tratado de livre-comércio que há décadas une as economias da América do Norte.
"Estou seguro de que, em relação ao Nafta, as coisas vão continuar funcionando bem", afirma.
Se o novo presidente seguir em frente, porém, o México, junto com Cuba, deve amargar as piores consequências, afirmam analistas. A disparada do dólar em relação ao peso conforme a vitória de Trump se desenhava foi um prenúncio do que pode vir pela frente.
Já para Fox, mesmo em um cenário em que Trump busque cumprir suas promessas, o México poderá "se virar sozinho". "Somos a 22ª maior economia do mundo, temos 43 acordos comerciais e o Nafta é apenas um deles", diz. Nesse sentido, o país pode dar maior atenção a novas parcerias, como o acordo com o Brasil atualmente em negociação.
"Nós no México temos dignidade, força e capacidade. Não somos o patinho feio no quintal dos fundos."
Como Trump, Fox também tem origem no empresariado. Antes de entrar para a política, ele fez carreira na Coca-Cola, onde chegou à posição de presidente da companhia para a América Latina.
Sua eleição pelo Partido da Ação Nacional (PAN) foi uma ruptura após mais de 70 anos de domínio do Partido Revolucionário Institucional (PRI).*A jornalista viajou a convite da Câmara de Comércio e Indústria de Dubai. Com informações da Folhapress.
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