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Com a inadimplência dos clientes ainda em alta, os maiores bancos brasileiros indicaram nos últimos dias que vão demorar a repassar para o consumidor a queda na taxa básica de juros, que o Banco Central começou a reduzir em outubro.
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O temor de novos calotes ainda é mais forte do que o apetite para voltar a emprestar, disseram executivos do Bradesco, do Itaú e do Banco do Brasil em entrevistas para detalhar os resultados do terceiro trimestre.
Entre julho e setembro, os empréstimos cresceram em linhas destinadas a financiamento imobiliário e crédito consignado, em que as garantias dos clientes reduzem para os bancos o risco de perdas com a inadimplência, e nos cartões de crédito, que muitos passaram a usar mais frequentemente no dia a dia.
O custo desse dinheiro também ficou mais caro no período. Para compensar o encolhimento de suas carteiras de crédito e as perdas com calotes, os bancos aumentaram os juros e os spreads, a diferença entre o que pagam para captar recursos de investidores e o que cobram para conceder crédito.
"Os spreads ainda têm um efeito da alta da inadimplência, mas a tendência futura é de estabilização", disse Luiz Carlos Angelotti, diretor de relações com investidores do Bradesco. Ele acha que a inadimplência só deverá começar a cair no fim do próximo ano, o que indica que dificilmente o custo do crédito será reduzido antes disso.
No início de 2015, quando a crise econômico se intensificou, o Banco do Brasil percebeu a necessidade de "ganhar mais dinheiro com o mesmo crédito", explicou José Maurício Pereira Coelho, vice-presidente de relações com investidores. O banco começou a renegociar empréstimos a juros mais altos para aumentar sua margem financeira.
"Esse esforço permanece", acrescentou. Com a economia se recuperando lentamente e o desemprego em alta, ele admite a dificuldade para continuar cobrando mais caro, mas mudar de estratégia não está nos planos do BB.
Coelho disse que a inadimplência ainda não atingiu o pico e é o principal risco para o mercado de crédito hoje. A redução dos juros exige a redução dos calotes, afirmou.
"A carteira vai crescer no ritmo que a economia e os agentes da economia permitirem", disse Marcelo Kopel, diretor de relações com investidores do Itaú, que também espera queda mais consistente da inadimplência antes de ver uma retomada do crédito.
O presidente do Santander no Brasil, Sérgio Rial, disse esperar uma disputa com seus concorrentes para a retomada das carteiras de crédito com a queda da taxa básica de juros.
"Isso começa a estimular a retomada de crédito, que a gente não viu nos últimos 24 meses", afirmou. "Aumenta financiamento de veículos e aumenta a retomada da compra da habitação."
Em outubro, o Banco Central reduziu a taxa Selic de 14,25% para 14% ao ano, o primeiro corte em quatro anos. A expectativa do mercado é que esse seja o início de um ciclo de redução dos juros que se estenderá até o próximo ano.
TARIFAS
Os correntistas também pagaram mais em tarifas para os bancos no último trimestre. O aumento das receitas de conta-corrente, cartões e taxas de administração dos fundos é outra via utilizada pelos bancos para manter a rentabilidade do negócio em meio à recessão.
Todos reajustaram os pacotes de serviços bancários no último ano, mas investiram também na oferta de novos serviços para clientes de renda mais alta, como seguros, planos de previdência e fundos de investimento.
No Banco do Brasil, o resultado foi um incremento de 20% no ganho com os clientes que migraram para os serviços "premium". Com informações da Folhapress.