© Paulo Whitaker / Reuters
A ex-presidente Dilma Rousseff e a ex-mandatária argentina Cristina Kirchner participaram na noite de ontem (9) de uma conferência sobre política latino-americana, em São Paulo, ocasião em que criticaram a guinada à direita do continente e o que chamaram de "retrocessos" nas conquistas populares.
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"Hoje a mesa é feminista e feminina", disse Dilma ao iniciar seu discurso, destacando o papel das mulheres na condução do poder. "Discutir a luta política na América Latina hoje é um ato eminente, porque nós temos que fazer uma reflexão sobre o que está acontecendo em nosso continente. Ao longo desses últimos 15 anos, com variações de país para país, nós tivemos um fortemovimento de afirmação da democracia e de políticas sociais", disse Dilma, citando medidas sociais adotadas pela gestão do PT.
A ex-presidente, que sofreu impeachment há sete meses, citou diretamente seu processo de afastamento e afirmou que "o golpe começou um dia após as eleições", referindo-se ao pedido de recontagem de votos feito pela oposição.
Já no âmbito econômico, Dilma ressaltou que "o Brasil não pode cortar mais gastos". A pestista disse que o caminho ideal seria "tributar fortunas e dividendos", mas se justificou ressaltando que isto não fora feito em seu governo devido à "dificuldade de passar pelo Congresso"."Se fosse só o Cunha estava bom", criticou, referindo-se ao algoz de seu impeachment e ex-presidente da Casa.
Em meio a gritos e aplausos dos militantes, Dilma também falou que o objetivo de seu "golpe" vem de "um trabalho não acabado que começou no governo e que pretendia privatizar as empresas estatais e favorecer empresários, a grande mídia e os grupos conservadores".
Dilma relembrou as bandeiras levantadas em seu governo, como a inclusão da classa baixa nas universidades, através de programas de financiamentos, e as moradias populares. Por fim, a ex-presidente criticou duramente a nova reforma da previdência proposta pelo presidente Michel Temer, pediu "Diretas Já" e uma reforma política.
Por sua vez, a argentina Cristina Kirchner criticou diversas vezes as ideologias neoliberalista, assim como Dilma, e disse, em tom alarmante, que o "neoliberalismo é um enfermidade que se contagia por múltiplas vias". A viúva de Néstor Kirchner também atribuiu sua derrota nas urnas ao fato do cidadão terse "acostumado"; com a qualidade de vida no país, se esquecendo que "a sorte individual de cada um depende da política gerada pelo governo".
Além das ex-presidentes, Monica Valente, secretária de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores, e Iole Ilíada, vice-presidente da Fundação Perseu Abramo - que promoveu o evento-, compuseram a mesa. Dilma e Kirchner se abraçam no final do seminário, num gesto que sela uma trajetória política. (ANSA)
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