Edney Pereira Melo achava que tinha aprendido alemão quando foi morar em Berlim, em 2003. Aos 29 anos, estudante de Letras e gerente de uma loja de pneus em Pernambuco, ele decidiu passar três meses na fria capital alemã. Depois de algumas idas e vindas, se mudou definitivamente em 2005.
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"Em 2001 e 2002 fiz um curso de alemão. Uma aula na semana, achei que soubesse alguma coisa. Quando cheguei aqui eu pensei: 'Acho que estudei japonês', não era nada daquilo", brincou.
Casado com uma italiana, ele decidiu operar o joelho após se regularizar. Nesse período de recesso, sua esposa comprava livros em português para ele.
"Foi aí que surgiu a ideia de abrir uma livraria. Mas como abrir um negócio sem recursos?", disse.
Edney então desenvolveu um projeto e apresentou a dois bancos. Um deles comprou a ideia e em 2006 ele conseguiu por o sonho em prática.
"Por incrível que pareça, abrimos a livraria sem livros, só com feijão e cachaça", contou brincando, já que as encomendas das publicações não chegaram a tempo.
Nas estantes, Jorge Amado, Saramago, Pepetel, Gunter Grass, Paulo Coelho, Thomas Mann. O espaço é reservado para autores de língua portuguesa publicados na língua original e em alemão, e para autores alemães publicados em português. Há seis anos, um espaço foi criado reservado para autores italianos na língua original. Hoje com um alemão perfeito, Edney também tem o italiano no currículo por conta de sua mulher, Catia Russo.
A maior dificuldade enfrentada é a importação de livros do Brasil:
É mais fácil ter livros vindos de Portugal. Um livro de Jorge Amado que importo de Portugal e vendo por 22 euros, custaria 39 se vindo do Brasil".
Edney desenvolveu também o festival de literatura Brasilien Trifft Berlin, que recebe autores de língua portuguesa em seu espaço. Além disso, ele tem uma pequena editora, a Edition Tempo, que já publicou André Sant’Anna e Marco Coiatelli. O livreiro fala com orgulho de seu projeto e conta ainda que já recebeu alguns dos autores lidos por ele n'A Livraria, entre eles Ruy Castro e Fernando Molica. Questionado sobre o livro preferido, Edney passou:
Não dá pra responder, é muita gente boa. Dos alemães, gosto muito de Thomas Mann".
Sobre voltar para o Brasil, ele foi categórico: "Volto todo ano para não esquecer que um dia vou voltar de vez", afirmou.
A Livraria - Torstrasse, 159, Mitte.