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O número de médicos no Estado de São Paulo cresceu em ritmo quase quatro vezes superior ao da população paulista nos últimos 35 anos, segundo censo do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de SP) divulgado nesta quarta-feira (14).
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Enquanto a população paulista aumentou 78% entre 1980 e 2015, o número de médicos no Estado cresceu 287%, chegando a 124 mil profissionais, segundo o levantamento Demografia Médica.
Assim, o número de médicos chegou a 2,79 profissionais para cada mil habitantes -acima da média nacional, de 2,1, mas bem abaixo das médias do Rio de Janeiro (3,75) e Distrito Federal (4,9).
Esses profissionais, contudo, são mais comuns não só nos grandes centros urbanos, mas em áreas mais ricas das cidades. Na capital paulista, por exemplo, a densidade é de 4,58 médicos por mil habitantes. Ainda assim, faltam médicos para atuar na rede pública na periferia da cidade.
O presidente do Cremesp (conselho de medicina de SP), Mauro Aranha, avalia que a ausência de hospitais de médio e grande porte, com residência médica, e de planos de carreira adequados sejam os principais entraves para a baixa demanda de profissionais nas regiões mais periféricas da cidade.
"O que atrai os médicos jovens são as residências. Por isso, há grande concentração de médicos nas áreas mais centrais de São Paulo, o que cria um vazio populacional de médicos para atendimentos nos extremos sul e leste da cidade." Dessa forma, diz Aranha, o levantamento vai ajudar a direcionar e a subsidiar políticas públicas mais justas.
As cidades com mais médicos por habitante em SP são Santos (6,9 profissionais por mil pessoas), Botucatu (6,45), Ribeirão Preto (6,2), Presidente Prudente (5,82) e São José do Rio Preto (5,56) -em comum, essas cidades possuem cursos de medicina. Em todo o Estado, diz o conselho, há 46 faculdades de medicina.
Aranha afirma que o problema não está no número de faculdades, mas nos locais em que as novas instituições solicitam a abertura da unidade. Ele cita como exemplo o pedido de duas novas instituições na região de Santos.
"Em Santos já há duas faculdades de medicina, mas recebemos no último ano pedido de abertura para Cubatão e Guarujá. É absolutamente desnecessário. Seria melhor ter um programa de residência médica em áreas em que você não tem esse tipo de programa, com Vale do Ribeira, região próxima ao litoral norte".
Já a região mais provida de profissionais é a de Ribeirão Preto, com 3,32 médicos por mil habitantes, seguida pela Grande São Paulo, com 3,05 médicos por mil habitantes. As regiões mais carentes são a de Registro (0,86) e de São João da Boa Vista (1,37).
ESPECIALISTAS
De acordo com o censo do Conselho, 40% dos médicos não possuem especialização. As áreas em que mais procuradas são pediatria, clínica médica, cirurgia geral, ginecologia obstetrícia. Segundo Aranha, essas são as áreas mais procuradas porque o pronto-socorro tem que ter essas áreas, além da alta demanda. Além disso, ele lembra que a pediatria está hiperespecializada, com poucos pediatras gerais, o que também dificuldade o atendimento.
Já medicina esportiva, radioterapia, cirurgia de mão e genética médica são as que têm o menor número de médicos especialistas especialistas. O presidente do Cremesp explica que o principal problema é a falta de especialistas em medicina da família e comunidade, que é a porta de entrada para a saúde.
"Há poucos profissionais para medicina da família, com poder de resolutividade de 70% a 80% das doenças. Na saúde da família há a prevenção e as doenças são tratadas no início, o que impede a evolução do quadro, além criar uma relação mais próxima com os pacientes." Aranha diz que investir na medicina da família fará com que haja barateamento dos custos e melhoria na efetividade no tratamento das doenças.
As mulheres estão à frente em áreas como dermatologia (são 77% dos profissionais), alergia e imunologia (72%) e pediatria (72%). Elas são maioria em 14 das 53 especialidades. Por outro lado, em 12 áreas cirúrgicas os homens são mais de 80% dos médicos, incluindo ortopedia e traumatologia (93%) e urologia (98%) -apenas 26 dos 1306 urologistas em atividade são mulheres.
Aranha diz que ocorre um processo de feminização na medicina -54% dos médicos com até 35 anos são mulheres. Contudo, o avanço do número de mulheres na área gera certa preocupação, como a diferenciação salarial por gênero e o aumento de estresse. "As mulheres médicas trabalham o mesmo tempo que os homens, mas ainda recebem menos. Os médicos, em geral, trabalham em três postos, e as médicas tem um quarto em casa".
Outro fato importante, diz Aranha, é o aumento dos casos de suicídios. "Diferentemente da população geral, o suicídio é duas a três vezes maior em médicas que em médicos. Na população geral, isso é ao contrário". Com informações da Folhapress.