Para Andrea Tonacci, importava pensar o cinema e a imagem

Cineasta é autor do clássico "Bang Bang", estrelado por Paulo Cesar Pereio

© Raul Guilherme / Divulgação

Cultura ensaio 18/12/16 POR Folhapress

Se Andrea Tonacci permanece como o mais secreto dos nossos grandes cineastas, isso se dá, em grande medida, porque sempre foi o mais avesso a marketing.

PUB

Importava-lhe fazer seus filmes. E pensar sobre o cinema. Sobre a imagem, especificamente: como fazer para captar sua verdade. Paulo Emilio escreveu sobre ele que seu primeiro curta, "Olho por Olho", era estranhamente correto, um tanto acadêmico. Talvez fosse a necessidade de dominar a forma? Talvez o olhar do crítico. Uma coisa é certa: Tonacci se preparou meticulosamente para fazer exatamente o que queria.

O próprio Paulo Emilio se surpreenderia ao ver "Bla Bla Blá" e, em seguida, o primeiro longa de Tonacci, "Bang Bang". Hoje clássico, este filme espantou desde o início pela audácia da narrativa.

Era, mais que um longa, um conjunto de contos centrados sobre o personagem de Paulo Cesar Pereio.

Espécie de observação do nonsense nacional na virada dos anos 1970, o filme alinhavava diversas histórias: bandidos incompetentes, a aventura de andar de táxi, de um macaco que cantarola uma velha valsa de Lamartine Babo... Cada sequência impressionava o espectador, cada uma delas também entusiasmou Paulo Emilio.

Depois desse filme, lançado precariamente no circuito comercial graças ao empenho de Nelson Aguilar, seguiu-se uma série de trabalhos fora do circuito comercial, entre eles o documentário em que acompanhou um grupo de sertanistas no contato com os índios araras, registrado em "Os Araras" (1980).

Num período mais recente, soube transformar trabalhos de encomenda em obras notáveis, casos específicos de "Biblioteca Nacional" e "Teatro Municipal".

Em 2006, realizou sua última obra-prima, "Serras da Desordem", que lhe valeu o prêmio de melhor filme no Festival de Gramado.

Ali ele narra a aventura do índio Carapiru, separado de sua tribo durante um ataque de fazendeiros. Carapiru foi encontrado anos depois pelo sertanista Sidney Possuelo, vivendo com brancos, mas sem falar uma palavra de português, muito longe do local onde vivera com sua tribo.

Falso documentário, esse filme trata de vários assuntos caros a Tonacci: a solidão, a separação, a distância. Mais do que tudo, no entanto, é um momento lancinante no final que nos leva a perceber a mais profunda preocupação do cineasta: a imagem.

É quando ele constata que desse homem de quem tudo foi levado ainda havia algo a roubar: sua imagem. E isso quem fazia era o homem da câmera. Quisesse ou não quisesse: era seu destino.

Andrea Tonacci, que finalizou esse filme com sua última companheira, a montadora Cristina Amaral, nasceu em 1944 na Itália e recebeu em 2010 a Ordem do Mérito Cultural: irônica homenagem oficial a um dos menos oficiais dos nossos talentos. Com informações da Folhapress. (Inácio Araujo)

PARTILHE ESTA NOTÍCIA

RECOMENDADOS

politica BOLSONARO-PF Há 23 Horas

PF indicia Bolsonaro e mais 36 em investigação de trama golpista

politica Polícia Federal Há 8 Horas

Bolsonaro pode ser preso por plano de golpe? Entenda

esporte Indefinição Há 8 Horas

Qual será o próximo destino de Neymar?

brasil Brasil Há 4 Horas

Jovens fogem após sofrerem grave acidente de carro; vídeo

economia Carrefour Há 6 Horas

Se não serve ao francês, não vai servir aos brasileiros, diz Fávaro, sobre decisão do Carrefour

justica Itaúna Há 8 Horas

Homem branco oferece R$ 10 para agredir homem negro com cintadas em MG

fama Segunda chance Há 21 Horas

Famosos que sobreviveram a experiências de quase morte

fama MAIDÊ-MAHL Há 9 Horas

Polícia encerra inquérito sobre Maidê Mahl; atriz continua internada

esporte Campeonato Brasileiro Há 22 Horas

Veja o que o São Paulo precisa fazer para se garantir na Libertadores de 2025

esporte Manchester United Há 23 Horas

Gary Neville explica relação com Cristiano Ronaldo: "Não éramos amigos"