© Reprodução / Arquivo Pessoal
Um pesquisador do Comitê para a Investigação Cética (CSI, na sigla em inglês), Benjamin Radford, se dedica a estudar fatos misteriosos, que mexem com o imaginário das pessoas, como é o caso do temido chupa-cabra, que ganhou as manchetes dos jornais nos anos 90 por todo o mundo.
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De acordo com matéria do Terra, relatos sobre o chupa-cabra apareceram pela primeira vez em Porto Rico em meados dos anos 1990. As testemunhas descreviam uma criatura bípede de quase um metro e meio de altura com olhos grandes, espinhos nas costas e longas garras, que chupava o sangue dos animais - o que deu origem ao nome.
O impressionante, na verdade, foi a rapidez que a história se espalhou. No Brasil, o programa "Domingo Legal", do SBT, exibiu a primeira reportagem sobre o assunto, em 1997, e isso gerou uma onda de supostas aparições no país.
Em 2000, o bicho passou a ser descrito como um quadrúpede parecido com um cachorro, mas sem pelos.
Observando os casos, Radford decidiu iniciar uma investigação. "Quando você tem um corpo, muda tudo. (...) Você pode colher amostras de DNA e de ossos, estudar a morfologia", conta.
No começo estava logicamente cético em relação à existência da criatura. Mas ao mesmo tempo tinha consciência de que é possível encontrar novos animais. Não queria simplesmente menosprezar ou descartar a possibilidade. Se o chupa-cabra é real, queria encontrá-lo."
Exames de DNA
O pesquisador iniciou o trabalho analisando o DNA dos animais mortos no Texas e em outros estados norte-americanos. E chegou a uma conclusão: os DNAs eram de coiotes, cachorros, guaxinins e até de um peixe.
Radford explica que este animais foram confundidos com um monstro por conta de uma sarna sarcóptica, provocada por ácaros. Esta é uma doença comum, que transforma a aparência dos animais, deixando-os sem pelos e com feridas, o que fez com que eles fossem confundidos com monstros.
As vítimas eram, em geral, predadores comuns. O pesquisador cita que é normal um cachorro selvagem, por exemplo, morder um animal no pescoço e sair correndo. Radford conta que animais "vampiros", como morcegos, deixam marcas diferentes das encontradas nos bichos mortos por supostos chupa-cabras.
Quando um animal morre, o coração para de bater e não há mais pressão sanguínea. (...) O sangue se acumula na parte mais baixa do corpo e então coagula e se espessa. Isso se conhece como lividez, e dá a ilusão de que o sangue foi retirado do corpo."
Se as explicações parecem tão óbvias, por que a lenda continua?
O pesquisador afirma que a causa estaria num forte sentimento antiamericano em toda a América Latina, especialmente em Porto Rico.
Falei com vários portorriquenhos, que sentiam que os Estados Unidos os havia explorado, enganado e ignorado, economicamente e de outras formas."
Radford conta que muitos portorriquenhos acreditam que os chupa-cabras são outra indicação da exploração americana, como experiências científicas secretas realizadas pelo país na floresta de El Yunque.
Outro fator para a sua popularização seria a internet. "Eu classifico o chupa-cabra como o primeiro monstro da internet. Se o primeiro testemunho tivesse ocorrido em 1985, algumas pessoas poderiam ouvir falar sobre ele, mas a história não teria viralizado pelo mundo todo",explica. "Hoje as pessoas vão ao Google e procuram 'animal misterioso que ataca as coisas'. E o mito se autoperpetua", conclui.
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