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"Fico feliz que não vá passar na rua o Natal do primeiro ano em que não tenho casa." São oito da manhã do dia 25 e a secretária desempregada Silvia Luz, 42, está escolhendo um enxoval de roupas novas com que vai almoçar. Há oito meses na rua, Luz foi uma das pessoas atendidas num almoço realizado no Colégio São Luis, na avenida Paulista.
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Cerca de 150 pessoas ganharam roupas e puderam utilizar uma estrutura montada na garagem de um prédio da Receita Federal, parceira do projeto, realizado pela Comunidade de Sant'Egidio, na rua Augusta. Além de vestiários onde os convivas podiam tomar banho, havia três cabeleireiros e duas manicures voluntárias, além de um consultório médico onde podiam passar em consulta.
Cerca de 30 voluntários, entre eles administradores, advogados e hoteleiros, escolheram passar sua manhã de Natal ajudando a escolher roupas e preparar a comida dos convidados.
"Passamos meses angariando doações e avisando as pessoas que o evento vai existir", diz Crisleine Yamaji, uma das organizadoras do evento. Semanas antes do Natal, são distribuídos convites nominais avisando do almoço.
Solange está com o convite dela na mão enquanto espera na porta da Paróquia São Luís Gonzaga, ao meio-dia. Dali a uma hora, aconteceria dentro da igreja uma apresentação do espetáculo Natal Iluminado, com música ao vivo, teatro, dança, circo e projeções de imagens. "É bom ver coisa bonita no Natal. Ainda mais pra quem, como eu, não tem família", diz ela, antes de entrar no templo.
As primeiras fileiras foram reservadas para moradores de rua e pessoas em situação delicada de convívio, como moradores de ocupações. Nas demais se sentaram turistas e paulistanos que esperaram o grupo entrar para poder escolher lugares. Com exceção de uma mulher que se recusou a ficar no templo com os convidados especiais do dia e partiu, a apresentação foi um sucesso.
JOGO COM KAKÁ
Enquanto os adultos escolhiam roupa e faziam tratamentos de beleza, as crianças puderam jogar futebol com um voluntário que a maioria já conhecia. "É o melhor jeito de passar meu Natal", disse o jogador Kaká enquanto servia leite achocolatado para três dúzias de meninos e meninas, com quem jogaria uma pelada em seguida.O jogo marcou a estreia da quadra do estilista Ricardo Almeida, que construiu o campo de cimento no topo da sua fábrica, no bairro da Armênia.
De volta à Paulista, era a hora do almoço. "Olha, posso te dizer que nem quando eu tinha uma família eu tinha uma ceia assim", disse o estudante Jean Grey, 30, que tinha uma banda cover do grupo Silverchair na cidade do interior onde morava antes de se mudar para São Paulo.
Na cidade, morou no estacionamento do hotel Hilton, no centro, antes de ser expulso. Atualmente dá um jeito de dormir no túnel sob a praça Roosevelt, também no centro. "Mas por hoje eu vou dizer que minha casa é a avenida Paulista, viu?", disse ele antes de atacar o peru. Com informações da Folhapress.
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