© Reuters / Rodolfo Buhre
Preso há pouco mais de dois meses em Curitiba (PR), o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) criticou, segundo um aliado, a falta de unidade do centrão -grupo de deputados que orbitava em seu entorno- na disputa pela presidência da Câmara.
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O ex-presidente da Câmara, cassado por seus colegas e alvo da Operação Lava Jato, relatou seu descontentamento ao deputado Carlos Marun (PMDB-MS), que fez uma visita a Cunha, na manha desta sexta-feira (30), no Complexo Médico Penal, em Pinhais, na região metropolitana da capital paranaense.
Os dois conversaram por cerca de meia hora em um parlatório, por interfone, separados por uma placa de vidro. Eles falaram sobre a disputa entre o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se tornou desafeto de Cunha, e dos candidatos do centrão, Rogério Rosso (PSD-DF) e Jovair Arantes (PTB-GO).
"Coloquei para ele que Rodrigo era uma candidatura forte. Ele disse que era burrada do centrão não estar unido, mas não expressou brabeza com Rodrigo", disse Marun.
Marun disse que Cunha, habituado a sempre usar paletó e gravata, trajava uma camiseta branca e uma calça de moletom. Afirmou que o ex-deputado estava "triste, mas não desesperado" e "revoltado" com sua prisão.
Segundo Carlos Marun, Cunha estava bem informado sobre as questões da política nacional, mas não fez comentários sobre o governo de Michel Temer. Perguntou sobre a bancada do PMDB e disse que não sabia que o deputado Baleia Rossi (SP) havia sido reconduzido à liderança do partido na Câmara.
"Da meia hora que conversamos, cerca de 20 minutos foram falando sobre a defesa dele, sobre pedidos de relaxamento de prisão. Ele reclama de sua situação jurídica, da aceitação das prisões preventivas e da dificuldade de ter para quem reclamar", disse Marun após a visita.
OPERAÇÃO LAVA JATO
Marun afirmou ainda que Cunha não disse claramente se faria ou não delação premiada. "Mas falou que, ali, naquele lugar onde ele está [Complexo Médico Penal], ficam as pessoas que não vão fazer delação. São pessoas que saem do centro dos acontecimentos, a carceragem da Polícia Federal", disse Marun.
Cunha foi transferido da carceragem da PF para o presídio no dia 19 de dezembro. A decisão de transferência foi da Justiça Federal do Paraná. De acordo com o juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, o espaço na PF é limitado.
No Complexo Médico Penal estão outros políticos envolvidos no escândalo de corrupção da Petrobras, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado André Vargas.
Carlos Marun deixou no presídio, de presente de Natal para Cunha, o livro "Ditadura Acabada", quinto volume da série do jornalista Elio Gaspari sobre o regime militar. Com informações da Folhapress.