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Mesmo depois de baixar em mais da metade os preços das reservas para o Réveillon, hotéis e pousadas da vila de Regência, em Linhares (ES), não conseguiram trazer de volta os turistas que frequentavam as praias locais.O vilarejo abriga a foz do rio Doce e foi afetado pela chegada da lama da Samarco ao mar no final de 2015 -um ano depois, os efeitos da tragédia na saúde e na biodiversidade ainda são desconhecidos.
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Na virada do ano passado, houve um cancelamento em massa de reservas em Regência. Esse ano, poucas foram feitas até esta terça (27), dizem os hoteleiros.
"Quando você me ligou, fiquei até feliz porque pensava que era alguém querendo reservar quarto. A uma semana do Ano Novo, não fiz uma reserva sequer", diz Fabrício Fiorot, 41, dono de uma pousada na vila, ao atender o telefonema da reportagem. Outro dono, Sérgio Missagia, 45, diz que as pessoas ligam e perguntam se há laudos sobre a água e ele diz que "não pode responder".
"E o pior é que não podemos nem planejar o que comprar ou quem contratar para a temporada, porque não sabemos quem vem. Ano passado comprei 500 kg de camarão. Não consegui alugar os quartos, e tive que comer. Não aguento mais ver camarão em minha frente", riu.
Ambos diminuíram em mais de 50% o pacote para três dias de Ano Novo. O prejuízo também afeta outras empresas que vivem de turismo, como as que alugam caiaques, prática bastante comum antes do rompimento.
Quando a barragem de Fundão se rompeu em Mariana (MG) e a lama chegou ao Espírito Santo, muitos peixes morreram devido ao aumento da turbidez (quantidade de partículas em suspensão) na água. A Samarco afirma que a lama não é tóxica, mas pesquisas indicam que a onda causada pela ruptura revirou metais pesados que estavam depositados no leito do rio.
A turbidez em Regência estava controlada, mas voltou a aumentar no fim desse ano, devido ao período chuvoso. Até agora, não há laudos divulgados pela Samarco sobre o efeito da poluição na saúde das pessoas.
Hotéis e agências de viagem de Regência também lamentam não haver um Réveillon oficial organizado pela prefeitura, como em anos anteriores. Procurada, a Prefeitura de Linhares não se manifestou.
A pesca no mar continua proibida e têm sido feitas pesquisas no local, conduzidas pela Renova (fundação criada e financiada pela Samarco para recuperação ambiental) e ICMBio (instituto federal responsável por unidades de conservação).Procurado, o ICMBio informou que a última coleta de dados para análise de contaminação foram feitas no último dia 5 e os resultados ainda não estão prontos.
No último relatório técnico divulgado pelo órgão, ainda no primeiro semestre, foram encontradas quantidades elevadas de metais como ferro e arsênio.
Já a Renova afirma em nota que são feitas análises da qualidade da água do mar e os resultados "indicam que a maior parte está em conformidade com os padrões estabelecidos pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente)".
No entanto, em função do período chuvoso, houve "aumento de turbidez e sólidos totais na água". "Mas são padrões de alteração já esperados para esse período", diz a nota. Segundo a fundação, os resultados são compartilhados com os órgãos ambientais.
Desastre
A barragem de Fundão ruiu em 5 de novembro passado, em Mariana (MG), e sua lama de rejeitos de minério matou 19 pessoas e destruiu 650 km até chegar ao litoral do Espírito Santo.
Um ano após a tragédia, a Justiça Federal aceitou denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal contra 22 pessoas e quatro empresas pelo rompimento da barragem. Entre os denunciados estão dirigentes e membros do conselho de administração da Samarco, incluindo o ex-presidente da empresa, Ricardo Vescovi. Com informações da Folhapress.
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