Agente mantido refém no AM descreve cenas de violência durante chacina

Em depoimento, o funcionário da Umanizzare declarou que todos os presos participaram do massacre

© Divulgação

Justiça Rebelião 07/01/17 POR Notícias Ao Minuto

Um funcionário da Umanizzare, empresa que atua na gestão do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, declarou que os detentos pouparam reféns, mas o mesmo não ocorreu por parte da polícia. O homem, que preferiu não ser identificado, declarou que houve violência generalizada durante a rebelião ocorrida no presídio.

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Segundo depoimento do agente penitenciário, a ação começou após os presos da facção Família do Norte renderem um agente penitenciário e aproveitarem a hora de retirar o lixo para invadirem a área do PCC. O movimento deu início ao tiroteio.

"Quando explodiu foi uma coisa horrível. Eles querem matar, furar, espetar, fazer tudo. Mas teve uns representantes das alas [dos presos] que falaram para os outros internos que não era para machucar a gente, que a briga deles não era com os agentes, mas sim com a outra facção", contou ao jornal Folha de S. Paulo.

Conforme o funcionário do presídio, foi por este motivo que alguns agentes saíram ilesos da situação.

No entanto, o agente declarou que o mesmo não ocorreu por parte da policia. "Quando os policiais entraram, não queriam saber se era agente ou bandido ali. Muitos de nós levantamos as mãos avisando que éramos agentes. Mas eles atiravam. Ainda bem que a polícia de choque não entrou logo de início, se não a gente ia morrer", declarou.

Em depoimento ao jornal, o homem também declarou que todos os presos participaram da carnificina. "Só não participou quem morreu. Os que se escondiam morriam. Os que se escondiam no forro, [os presos amotinados] iam lá, matavam e jogavam para baixo. Os que se escondiam em cima do telhado, eles levavam para a quadra", relatou.

"Os presos matavam com tiro e depois cortavam. Tiravam coração, tripa. Vi com meus próprios olhos. Até hoje para dormir é na base de remédios", disse. "Nunca mais vou esquecer daquilo. Você vê a pessoa cortando a cabeça da outra, tirando coração, tripa", completou.

Ainda de acordo com a reportagem, o agente acredita que a ação deixou mais do que 56 mortos. "Fora os corpos dos que se esconderam no esgoto, que é gradeado, muitos não puderam sair", explica.

O funcionário da Umanizzare criticou o sistema penitenciário. "Nosso sistema é muito falho. A gente manda ofícios, não é atendido. Entra colchão, comida à vontade, tem festa e pagode", disse.

"Antes a revista era feita pela polícia de choque. Agora, é feita pela secretaria", contou. Segundo o depoimento, todos os agentes foram revistados no dia da rebelião. "No dia da chacina, foi normal, tivemos as três revistas. Por isso que eu digo: não tem como um agente colocar arma para dentro", explicou.

Ao fim do relato, o homem afirmou que os "representantes dos presos" tiveram mais consideração com os agentes do que o "próprio governo".

"A secretaria queria invadir na madrugada e atirou contra a gente no portão. [...] Quando foi pela manhã, o senhor secretário não quis sabe se estávamos bem, nem sequer ofereceu copo de água. O governador vai na mídia anunciar que vai ajudar a família dos presos mortos. E os agentes que estavam lá, que sofreram represália?", questionou.

Leia também: Nova briga entre facções deixa 31 mortos em presídio de Roraima

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