FDN enfrenta facções ligadas a PCC para crescer

O grupo quer agora ter maior acesso à Bolívia, por meio de sua expansão no Acre e em Rondônia

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Brasil Amazonas 08/01/17 POR Estadão Conteúdo

Se estar ao lado dos três maiores produtores de cocaína do mundo fez a facção Família do Norte (FDN) se expandir nos últimos seis anos, o poder adquirido ainda não foi suficiente para que represente uma força dominante em toda a Amazônia. Imitar o modelo de facções como o Comando Vermelho (CV) garantiu o tradicional pagamento de mensalidade por parte dos afiliados e a FDN se estabeleceu como dominante em parte da fronteira. O grupo quer agora consolidar o domínio dessa rota, ocupando um vácuo de facções no Pará, e ter maior acesso à Bolívia, por meio de sua expansão no Acre e em Rondônia.

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Tudo isso não deve acontecer sem novas disputas, que podem incluir brigas nas penitenciárias, como em Manaus, que deixou 56 mortos. Para executar seus planos, a Família terá de quebrar um "cinturão" do Primeiro Comando da Capital (PCC) que envolve o Amazonas. Em Roraima, acima, no Acre, abaixo, e no Pará, ao lado, as forças dominantes, segundo investigações policiais, são simpatizantes da organização paulista ou de grupos que se autodenominam de forma homônima.

Para ganhar força, a FDN aposta nas fronteiras, principalmente no encontro brasileiro com cidades colombianas e peruanas, na tríplice fronteira. Foi lá que a facção já desenvolveu negócios milionários (mais informações nesta página) e quer ter acesso a quantidades cada vez maiores de cocaína para revenda a Estados nordestinos, onde encontra um bom mercado. O Amazonas tem 2,7 mil quilômetros de fronteira.

"Amazonas é vizinho dos únicos produtores de cocaína do mundo: Colômbia, Peru e Bolívia. Nesse contexto territorial, há sinais claros do empoderamento dessa facção", disse o policial civil aposentado e professor da Universidade do Estado do Amazonas Antônio Gelson de Oliveira Nascimento.

Nascimento diz que, nas décadas passadas, havia grupos locais que se diluíam com as ações policiais. Quando as lideranças começaram a ser segregadas em presídios federais, houve contato com o know-how das grandes organizações, o que permitiu o crescimento da FDN. "Você tira o bandido perigoso do Amazonas e o coloca para dividir cela com Fernandinho Beira-Mar. O que se pode esperar desse camarada, que era inexperiente, é aprender como se faz." Para ele, "ignorar a proteção das fronteiras é subestimar o crime organizado".

Para consolidar o escoamento da sua mercadoria para o Nordeste, a Família poderá bater de frente com o Primeiro Comando do Norte (PCN), expressão do PCC fundado no Pará. O PCN encontra dificuldades para aumentar sua influência nas cadeias, pois não consegue afirmar seu poder em mercados consumidores crescentes de drogas, como Altamira e Marabá. "No Pará vimos uma migração para o interior diante de um crescimento demográfico significativo", disse Aiala Colares, pesquisador da Universidade do Estado do Pará. Colares destaca que no Estado ainda funcionam grupos autônomos, como a Equipe Rex, que domina o Complexo Penitenciário de Americano, na região de Belém.

Já no Acre, a chegada do PCC, segundo a professora da Universidade Federal (UFAC) Marisol de Paula Reis Brandt, deu-se pela localização da fronteira com a Bolívia. Aliada ao Bonde dos 13, a organização paulista disseminou o expertise em gestão criminosa, com direito a estatuto, cadastro e mensalidade. O Bonde dos 13, porém, já passou a enfrentar a dissidência de criminosos, alimentando o ciclo de disputas e acirrando a tensão dentro e fora das cadeias. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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