Irmã de Teori diz que ele reclamava de cansaço e pensava em parar

Delci, de 70 anos, é a única remanescente dos seis irmãos Zavascki

© Karine Viana/Palácio Piratini

Brasil MINISTRO 22/01/17 POR Folhapress

A missa deste domingo (22) na paróquia São Sebastião, em Faxinal dos Guedes, cidade de pouco mais de 10 mil habitantes na região oeste de Santa Catarina, foi diferente do habitual.

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Entre aqueles cuja memória foi homenageada estava o ministro do Supremo Tribunal Federal e relator da Operação Lava Jato, Teori Zavascki, nascido na cidadezinha em 1948, onde passou toda a infância, e morto em acidente aéreo na última quinta (19).

Em Faxinal, foi decretado luto oficial de três dias e todas as bandeiras foram hasteadas a meio mastro.

Amigo de Teori, o padre Ivo Pedro Oro foi quem conduziu os louvores, preces e orações.

As pouco mais de cem pessoas que foram à paróquia neste domingo o ouviram contar da amizade que tinham no seminário católico, onde se conheceram, e talvez tenham relacionado passagens da missa com a tragédia acontecida na última semana, especialmente quando o pároco falou na fraternidade como antídoto aos princípios da competitividade e de "comer o fígado dos outros" que vigem hoje, especialmente na "política".

"Fui colega de Teori entre 1961 e 1967 no seminário, primeiro em Lindóia do Sul e depois em Chapecó. Fizemos juntos o curso ginasial e o curso colegial. O Teori se destacava em todas as matérias, especialmente no Português. Lembro que venceu um concurso de redação em 1957 sobre os 50 anos de Chapecó, historiando o índio Condá", diz Oro.

"Quando nos encontrávamos, relembrávamos do futebol, das arapucas que tínhamos para pegar pássaros, um viveiro que construímos. Também falávamos das peças do seminário. No teatro, quase sempre ele era o protagonista. Lembro de duas peças: 'Alma Sertaneja' e 'Coronel Farroupilha'", completa.

No perfil do Facebook do padre, uma foto tirada no ano passado com Teori encheu-se de comentários de luto nos últimos dias.

No entanto, mensagens mais antigas mostram aborrecimento com a decisão do ministro, em março de 2016, de enviar investigação sobre Lula para o STF, retirando-a da alçada do juiz Sergio Moro -"mais um petralha", diz um usuário.Sobre o acidente, o padre diz que não gostaria de fazer afirmações, mas diz que as circunstâncias são "muito misteriosas", que as coincidências são "muito grandes", e que devem ser vistas com bastante detimento.

IRMÃ DE TEORI

A única remanescente dos seis irmãos Zavascki em Faxinal dos Guedes -que tem esse nome em referência a um sistema antigo de cultivo da terra ("faxinal") e em homenagem a uma família poderosa na região (os Guedes)- é Delci, 70. Recém-chegada de Porto Alegre, onde acompanhou o velório e o enterro do irmão mais novo, ela pede uma análise minuciosa do ocorrido.

"Dizem que é o avião mais seguro do mundo... Espero que façam uma boa investigação. A gente acha muito esquisito, mas também não pode afirmar nada", diz, confirmando que a família sabia de ameaças que os filhos de Teori vinham sofrendo e que o ministro, para não preocupar as pessoas próximas, possivelmente escondia as tentativas de intimidação que recebia.

No velório, ela conta que foi consolada pelo juiz federal Sérgio Moro, que teria se colocado não somente como um colega profissional mas também como amigo de Teori. Já com o presidente Michel Temer o contato foi mais breve, por meio de um cumprimento.

Nessa época do ano, Teori estaria passando suas férias em Faxinal. No entanto, a irmã ouviu há duas semanas que ele a visitaria mais para frente, pois queria encerrar as férias com uma semana de antecedência e partir para Brasília, onde tinha "problemas para resolver."

Segundo ela, ele raramente falava sobre o trabalho de ministro. Contudo, vinha se queixando de muito cansaço nos últimos meses e mencionava até a possibilidade de se aposentar em breve.

"Ele me disse que não sabia se ficaria muito no Supremo, que pensava em parar e ir para Porto Alegre e ficar com os filhos. Dizia sempre que estava cansado e que precisava de férias. Ele nem precisava dizer o porquê".

Gremista "doente", Teori tinha como passatempo, além de caminhar pelo sítio da família e de ler, pegar no pé dos sobrinhos colorados. Em 2016, seu clube foi campeão da Copa do Brasil, e o principal rival foi rebaixado, fatos que lhe causaram especial alegria.

"Quando ganhava, ele perguntava se tinham visto o jogo, para atiçar. Lembro dele andando por ali [aponta para o lago do sítio, ao lado da casa da mãe, que morreu há seis meses], com o bonezinho virado, fazendo os telefonemas dele, tomando chimarrão...", diz Delci sobre Teori, cujo nome peculiar veio de vontade da mãe, que imitou a ideia de uma vizinha. Com informações da Folhapress.

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