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A ex-presidente Dilma Rousseff foi a convidada de honra nesta sexta-feira, dia 27, do seminário internacional "La Solitudine della Democrazia" na Universidade de Salento, em Lecce, na região italiana da Púglia, que tratou do tema da "erosão das democracias contemporâneas".
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Em seu discurso, que foi presenciado também pelo ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, Dilma defendeu a democracia e voltou a denunciar o que chama de "golpe de Estado" no Brasil.
"Na estratificação da sociedade brasileira, o impeachment faz parte de um processo que traz parte do passado [à tona] e, ao mesmo tempo, cria uma situação bastante grave. [...] Vivemos em um momento extremamente propício para o golpe parlamentar que ocorreu".
A ex-mandatária disse que o "golpe" foi causado por duas grandes razões. Para ela, a primeira eram políticos que queriam derrubá-la para que não fossem investigados em casos de corrução e que decidiram trai-la.
"Trata-se de partes do movimento democrático brasileiro [PMDB], que fazia parte da minha coalizão, que se despregou do governo e se aliou à oposição, que nós tínhamos derrotados por quatro eleições consecutivas, o PSDB", afirmou Dilma. Já a segunda razão do impeachment seria que esses políticos queriam "criar limites nos quais o Brasil teria que se restringir tanto econômica quanto geo-politicamente".
Nesse sentido, Dilma apontou que o Estado sempre esteve muito presente no país e que por isso o neo-liberalismo que podia ser visto em outros países da América Latina não se repetia na nossa nação.
"Por quatro vezes o nosso projeto de desenvolvimento econômico com distribuição de renda e reafirmação da soberania impediu que o outro projeto de introdução e implementação do neo-liberalismo tivesse qualquer possibilidade de, pelos meios democráticos, ser implantado", disse a ex-presidente.
Dilma também disse que a população acabou, em parte, aceitando o seu impeachment devido à crise econômica mundial que atingiu todos os países, mas que chegou aos países emergentes, como o Brasil, no terceiro trimestre de 2014 e que piorou em 2015, segundo ela.
Para justificar isso, a ex-presidente leu um trecho da obra do economista norte-americano Milton Friedman o qual fala que, durante uma crise, "o politicamente impossível se torna o politicamente aceitável". "A crise política teve um papel estratégico na inviabilização do governo no enfrentamento da crise econômica", explicou a ex-mandatária. Dilma também ressaltou que o "governo ilegítimo", no entanto, subestimou a crise econômica e a própria crise política já que, segundo ela, o novo governo é impopular. (ANSA)
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