Alceu Valença revela ‘decepção’ com Carlos Drummond de Andrade

Cantor e compositor pernambucano relatou ao Notícias ao Minuto o encontro que teve com o poeta no passado

© Alex Rajan / Notícias ao Minuto

Cultura EXCLUSIVO 04/02/17 POR Notícias Ao Minuto

O cantor, compositor, cineasta e escritor pernambucano Alceu Valença é fã declarado do saudoso poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. Tanto é que o cronista, morto em agosto de 1987, ganhou do músico uma homenagem no disco Cavalo de Pau, lançado pelo autor de “Tropicana” em 1982.

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Em entrevista exclusiva recente ao Notícias ao Minuto Brasil, Alceu, que dedicou uma das faixas do disco a Drummond, revelou que encontrou o poeta nas ruas do Rio de Janeiro nos anos 1980 e foi até ele falar da homenagem. Só que o cronista nascido em Minas Gerais não deu muita bola para o músico.

“Sai com um amigo meu, em Ipanema, e fomos ao Natural (bar) na rua Barão da Torre. E eu estava sentado quando Drummond passou. Ai meu amigo falou: ‘Alceu, fala para ele que você dedicasse a música…’. Eu respondi: ‘não, deixa o cara em paz’. Mas ele insistiu: ‘Vai, Alceu’.

Na insistência do amigo, Alceu decidiu correr atrás de Carlos Drummond de Andrade em Ipanema. O poeta já havia dobrado a rua.

“Quando eu o alcancei, vi ele parado olhando um cara empalhando uma cadeira. Ai eu falei: ‘poeta Drummond, dediquei uma…’. Ele já me interrompeu e falou que eu não precisava dedicar nada a ele. Eu insisti dizendo que era uma música e ele falou: ‘não, não quero música não”, lembrou.

“Rapaz, ele me tratou com um desprezo inacreditável”, completou Valença, falando ainda da primeira decepção com o poeta.

O artista pernambucano ainda viria a ter outro encontro com o poeta, praticamente no mesmo local.

“Passou um tempo. Eu estava num outro bar agora naquela mesma rua, com Walter Queiroz, compositor da Bahia. Aí lá vem ele (Carlos Drummond) andando com a mesma roupa e com o mesmo paletó amarelo. Eu já estava meio ‘biritado’, tinha tomado uns chopes. Fui até ele e falei: ‘o poeta Carlos Drummond, passeando na Vinícius de Moraes (rua)”. Ele só olhou para mim e fez um “tsc” (som). Rapaz, quanta humilhação”, recorda-se Alceu Valença, com sorriso no rosto.

Ao fim do relato, Valença deixa no ar que se o caso se repetisse nos dias atuais, em plena era da internet, a repercussão seria grande. “Um cara desse na época do celular...”, finalizou.

Leia também: A música, o cinema e os 70 anos de Alceu: ‘Meu tempo é muito rápido’

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