© NASA
Há pouco tempo, a empresa americana SpaceX, cujo foguete Falcon 9 explodiu em setembro passado, anunciou uma iniciativa inédita de enviar dois turistas espaciais à Lua já no próximo ano. Porém, muitos especialistas afirmam que o projeto ambicioso carece de preparação e ainda há muito para ser feito antes do lançamento.
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O acadêmico da Academia Espacial da Rússia Tsiolkovsky, Aleksandr Zheleznyakov, afirmou em uma entrevista à Sputnik, que a empresa espacial americana, com efeito, pode efetuar uma viagem em torno da Lua em um futuro próximo, mas por enquanto isso são apenas promessas.
"Hoje em dia, todos prometem. Por exemplo, o chefe da empresa espacial russa Energia, em conversa com a vossa agência, fala do ano de 2022, Elon Musk promete circunvoar a Lua num prazo mais curto — mas ele, na verdade, tem mais disponibilidade técnica para isso. Entretanto, como se diz, prometer não quer dizer que cumpra, por isso vamos ver como a situação se vai desenvolver", frisou o cientista.
De acordo com Zhelesnyakov, o anúncio inesperado de Musk da viagem espacial é, em certo sentido, uma ação publicitária para atrair mais investimentos para o desenvolvimento da SpaceX.Claro que em grande parte isso é marketing. Mas o típico é que a NASA, logo após o anúncio de Musk, se tenha manifestado a favor do projeto, o que faz pensar em uma postura acordada [de antemão]. Acredito que esse não é apenas um apoio verbal, mas também técnico — por exemplo, no que se trata das inspeções e certificação da astronave Dragon 2 e do foguete pesado Falcon Heavy", frisou, adiantando que tudo isso indica que Musk tem uma intenção elevada de realizar sua ideia..Em resumo, o analista assinalou: "Claro que ainda não houve testes, já que eles começarão apenas no ano que vem, enquanto o foguete Falcon Heavy pode ser lançado pela primeira vez já em 2017. Por isso, acho que, se não for daqui a 2 anos, mas em um futuro mais breve, o projeto de circunvoar a Lua anunciado por Musk pode se realizar."
Já se sabe que os dois turistas ousados já depositaram a maior parte do pagamento adiantado e agora terão que passar por testes médicos e treinamentos. Se a viagem se der, este será o primeiro voo à Lua em mais de 40 anos. Porém, outro especialista, o funcionário da empresa privada russa Dauria Aerospace Vitaly Egorov, em uma entrevista ao serviço russo da Rádio Sputnik, também expressou suas dúvidas quanto à iniciativa ambiciosa.
"Há ainda uma série de tarefas técnicas e organizacionais que ainda devem ser resolvidas. Primeiro, há que concluir a construção de um foguete superpesado, sem o qual uma viagem deste tipo não é possível. É necessário testa-lo pelo menos 2-3 vezes com alguma outra carga útil. Além disso, seu uso para voos tripulados, segundo eu entendi, antes não estava previsto", explica o especialista.
Por isso, a empresa terá de realizar determinadas certificações e determinadas modificações técnicas para ter essa oportunidade, adianta Egorov.Mais um pormenor: quando regressamos da Lua, a nave atinge uma velocidade que é praticamente igual à segunda cósmica, ou seja, 11 km por segundo. E, neste caso, o choque com a atmosfera da Terra ao penetra-la, mesmo quando se entra sob um ângulo agudo, é bastante forte. Uma astronave comum que viaja à órbita baixa da Terra não está adaptada a tal choque", partilha o especialista, afirmando que a nave terá que ser aperfeiçoada para viajar até ao espaço distante.
Ou seja, pode ser necessário aumentar a rigidez do casco, a espessura do escudo térmico e alterar o esquema de reentrada, detalha Egorov.A viagem à Lua é uma tarefa absolutamente realizável, acredita o especialista, desde que seja feito o trabalho adicional necessário, enquanto a perspectiva de enviar turistas a Marte continua nebulosa.
"Ninguém deu dinheiro à SpaceX para [os projetos ligados a] Marte. O cliente principal da SpaceX é o Estado, enquanto este concede financiamento apenas para a órbita baixa da Terra. Até hoje, o Estado nunca encomendou nem astronaves, nem foguetes à SpaceX. Tudo o que a empresa faz neste sentido são apenas seus investimentos internos e eles não permitem que sejam realizados todos os planos que eles têm e todos os objetivos anunciados", resumiu. (Sputnik)
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