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"Mantenha Austin esquisita". O slogan da capital do Texas dá as boas-vindas para quem chega à cidade, também conhecida como a capital da música ao vivo e casa do maior e mais eclético festival dos EUA, o South by Southwest, ou apenas SXSW, que começou sua 31ª edição nesta sexta-feira (10) e segue até o próximo domingo, 19 de março.
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Originalmente dedicado apenas a música, hoje o SXSW é considerado um dos mais importantes eventos de tecnologia e economia criativa do mundo, com números que crescem a cada ano e credenciais que chegam a custar US$ 1.650 (R$ 5.270). Foi aqui que o Twitter e o Foursquare tiveram seus lançamentos, no final dos anos 2000. Há também um festejado prêmio anual, no qual neste ano 65 startups finalistas disputam em 13 categorias, que vão de saúde a segurança, a áudio e realidade virtual.
Cerca de 2 mil bandas se apresentam em cem bares e casas espalhadas pela região central histórica de Austin todas as noites, a maioria grupos independentes vindos do mundo todo. O Brasil está representado por nove artistas, sem contar outras 68 empresas de pequeno e médio porte de setores diversos como audiovisual, moda e música, na maior delegação do país na história do evento.
Em 2016, as 36 empresas nacionais que participaram do SXSW fecharam US$ 16,6 milhões em novos negócios, de acordo com Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). "O evento é uma plataforma de promoção de imagem e reúne gente importante da chamada economia criativa", disse Christiano Braga, um dos gerentes da agência.
A reportagem conversou com o diretor de programação do SXSW Hugh Forrest, 53, envolvido com o festival desde sua terceira edição, em 1989, e responsável pela divisão de tecnologia, hoje chamada Interactive (interativa), desde sua concepção, em 1994. Formado em Letras, Forrest trabalhou com jornalismo durante muitos anos e criou a publicação alternativa "The Austin Challenger" antes de se juntar à equipe do SXSW.
Pergunta - Como explicar o SXSW para alguém que nunca ouviu falar do festival?
Hugh Forrest - O nome vem de uma brincadeira de um antigo filme de Alfred Hitchcock, "North by Northwest" [em português, o título ficou "Intriga Internacional", de 1959]. É muito difícil descrever o evento para quem nunca esteve aqui. É uma grande celebração da criatividade, mas estas palavras não fazem muita justiça.
Pergunta - O que acontece que a música do SXSW perdeu tanta atenção para os eventos de tecnologia?
Resposta - A parte Interactive do festival viveu um crescimento gigante entre 2004 e 2014. Em termos de participação da indústria, o Interactive passou o Music em 2008 ou 2009. Mas isto faz total sentido quando você olha para como o mundo evoluiu nos últimos dez anos. A tecnologia ocupou um espaço imenso e é hoje a espinha dorsal para quase todos os setores da nossa sociedade. E o SXSW claramente reflete essa nova ordem mundial.
Pergunta - Quando você começou a trabalhar no festival, quase 30 anos atrás, quais eram as empresas de tecnologia e as tendências da indústria da época?
Resposta - Quando o SXSW começou em 1987, a maioria das pessoas nem sabia o que era a internet. Em 1994, adicionamos o SXSW Multimedia e, nesse ponto, a tecnologia mais avançada era o CD-Rom. As coisas mudaram certamente de maneira muito intensa nos 25 anos desde então. Se eu sinto falta dos velhos tempos? Um pouco. Mas, esse espírito de criatividade que usamos em 1987 ainda está muito vivo no SXSW 2017. Então, nesse sentido, nada mudou muito.
Pergunta - Como o SXSW mantém o balanço para garantir que a música continue a ser a alma do festival?
Resposta - O festival começou como um evento de música e ainda é um componente vital de tudo o que fazemos em Austin. Sempre será uma parte forte do que fazemos, não importa o quanto o festival cresça e abrace outras áreas. Isto porque música é um exercício de criatividade, e criatividade é o coração e a alma do SXSW. As bandas que querem participar do SXSW precisam fazer inscrição online, um formulário que geralmente fica disponível a partir de julho.
Pergunta - Quão grande é grande demais para o SXSW? Existe um limite para o quanto o festival pode crescer numa cidade relativamente tão pequena?
Resposta - Digo à minha equipe para sempre focar na qualidade da experiência, em vez de quantidade de participantes. Se a gente tomar conta da qualidade, a quantidade e os números tomam conta de si próprios. Neste momento, a nosso maior desafio é o tempo. Estamos de dedos cruzados que termos céu azul e temperaturas amenas.
Pergunta - Qual foi o impacto da saída do Uber e Lyft de Austin em maio de 2016 [após desavenças com leis municipais]? Afetou a imagem de Austin como centro tecnológico ou a do festival, já que celebra economias criativas?
Resposta - Acredito que a cidade se recuperou bem rapidamente da perda destas duas grandes empresas. Sua saída levou ao rápido lançamento de algumas firmas pequenas de carona compartilhada em Austin [alguns são RideAustin, Fasten e Wingz].
Pergunta - Algum registro de artistas internacionais com problemas de visto para entrar nos EUA?
Resposta - Ainda não. Mas saberemos mais ao longo do festival.
Pergunta - Quantas pessoas ajudam a organizar o SXSW e como funciona a seleção?
Resposta - Entre janeiro e março, nossa equipe chega a cerca de 250 pessoas. Rola um lobby forte de muitas bandas que querem se apresentar, diretores que querem exibir seus filmes e palestrantes com suas ideias. Mas é ótimo ter tanta gente criativa interessada em se envolver com o evento.
Pergunta - Há pressão para descobrir os novos Twitters e Foursquares da vez?
Resposta - É muito legal ter lançamentos de aplicativos de sucesso que ganham um monte de atenção da mídia. Porém, não acho que o sucesso do evento deva ser medido por este parâmetro. O festival é uma plataforma para empoderar pessoas criativas a alcançar seus objetivos. As pessoas usam o SXSW para fazer isto, e avançar suas carreiras, com ou sem um novo aplicativo que seja sucesso no "mainstream".
Pergunta - Como você consegue aproveitar o festival quando ele começa de verdade?
Respostas - Acho que consigo dormir mais durante o evento em si do que nos dias e semanas e meses que o antecedem. Mas eu não vivencio o festival da mesma maneira que a maioria dos participantes. Meu papel é tentar solucionar problemas o quanto eu puder. É desafiador e divertido, mas acho que não tão divertido quanto ter uma credencial e apenas aproveitar tudo o que está disponível. Com informações da Folhapress.