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Em uma competição que teve brasileiro na final, uma canadense que ensina esquimós em um local ao qual só se chega pelo ar ganhou o prêmio de professora do ano. O título, chamado de Global Teacher Prize, foi anunciado neste domingo (19) em Dubai. Maggie MacDonnell receberá US$ 1 milhão pela conquista.
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Espécie de Oscar dos professores, a cerimônia é promovida pela Fundação Varkey, entidade com atuação internacional na área, e tem como patrono o emir de Dubai e vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum.
O prêmio tem a proposta de incentivar profissionais com trabalhos de impacto social. Nascida em uma localidade rural do Canadá, Maggie MacDonnell atuou por cinco anos na África sub-saariana. Na volta, buscou oportunidades para lecionar em comunidades indígenas de seu país, posto que costuma ser pouco atrativo devido à dificuldade de acesso e condições de trabalho precárias.
Na região de Nunavik, onde ela ensina há seis anos, a temperatura cai a -25ºC no inverno, e não há estradas. Professores que ali concordam em trabalhar comumente desistem no meio do ano letivo. Há ainda alta taxa de suicídio entre jovens -mais de dez nos últimos dois anos, diz Maggie.
Ela diz ter escolhido o posto como uma forma de agradecimento. "Eu, como todo o povo canadense, me beneficiei do fato de eles terem preservado a natureza, não teria por que não retribuir", diz. Suas iniciativas na localidade incluem um programa específico para aumentar a frequência de meninas na escola, inclusive com inserção profissional e parcerias para o fornecimento de comida à comunidade, tarefa que costumava ficar com elas.
Maggie também chegou a dar abrigo a alguns de seus alunos. Uma das tarefas mais difíceis, no entanto, foi montar um centro de práticas de exercícios físicos no local - ela é uma grande entusiasta dos benefícios do esporte para o desenvolvimento de habilidades como resiliência e trabalho em equipe. Após uma tentativa de trazer os equipamentos por barco, o mar congelou. O resgate dos aparelhos incluiu a participação de esquiadores.
Com o dinheiro, que receberá em parcelas ao longo de dez anos, ela planeja investir em um projeto ambiental e em outro de treinamento para o uso de caiaques, o que poderia reduzir o isolamento do povoado.
A entrega da homenagem ocorreu após dois dias do Fórum Global de Educação e Competências (Global Education and Skills Forum), que se propõe a ser uma espécie de "Davos" da área, com a participação de especialistas e autoridades, a exemplo de Arne Duncan, ex-secretário de Educação de Barack Obama, e Michael Gove, que capitaneou uma reforma do ensino no Reino Unido. Ao todo, cerca de mil delegados participaram do evento.
BRASILEIRO
Com mais de 20 mil inscritos em sua terceira edição, o prêmio recebido por Maggie também levou pela primeira vez um brasileiro para a final.
Filho de pais semianalfabetos, ex-vendedor de picolé e com apenas 26 anos, Wemerson Nogueira dava aula até o ano passado na rede pública das cidades de Boa Esperança e Nova Venécia,ambas no Espírito Santo. Chegou ao grupo de dez finalistas com projetos ligados à tragédia que assolou o rio Doce em 2015, após o rompimento de uma barragem em Mariana (MG).
Maior desastre ambiental já causado por rejeitos de minério, o acidente provocou uma onda de lama que invadiu o rio Doce e alcançou cidades capixabas.
Para ajudar comunidades ribeirinhas, Wemerson propôs aos alunos que desenvolvessem um filtro para purificar a água. Sob sua orientação, eles criaram um equipamento a base de pedras e areia, que tornou a água apta ao consumo doméstico. Por meio de parcerias, mais de 200 aparelhos foram desenvolvidos.
"É um exemplo incrível para todos os países, especialmente os que têm poucos recursos", disse o professor espanhol David Calle, também finalista do prêmio e um dos mais entusiasmados com a palestra do brasileiro.
A tragédia de Mariana também serviu de ponto de partida para outra aula de química: por meio de análises dos elementos encontrados na água do Rio Doce após o acidente, o professor ajudou a ensinar os elementos da tabela periódica.Nos colégios em que atuou, trabalhou ainda com projetos de conscientização sobre o uso de drogas, com a elaboração, pelos alunos, de cartazes e folhetos distribuídos pela cidade.
Neste ano, Wemerson mudou-se para Vitória, onde dá aulas em cursos de formação de professores. Uma das razões para a escolha foi o salário: por 12 horas de aula, mais dois dias voltados a pesquisas, ganha mais do que recebia para lecionar no ensino básico -eram R$ 1.500 para uma jornada de 25 horas, que ele por vezes dobrava para conseguir pagar as contas.
A valorização do professor, não por acaso, é uma de suas bandeiras para a melhoria da educação no Brasil. "Formamos todos os outros profissionais", lembra, na rica Dubai, em evento que teve show do tenor Andrea Bocelli, macarrão feito em máquina de impressão 3D, imitação do carnaval de Veneza e outras atrações. Foi sua primeira viagem internacional.
Mesmo sem o prêmio, Wemerson deixa a península arábica com convites para palestras em Portugal, Espanha, Estados Unidos e Austrália e muitos planos. "Quero aprender inglês e atuar na rede municipal e estadual com o desenvolvimento de metodologias inovadoras", diz. "Está sendo um orgulho representar o Brasil e mostrar que, mesmo com nossos problemas de estrutura, nós podemos ter excelência. O país precisa investir em educação, e os professores devem sempre buscar inovar seus métodos de ensino." Com informações da Folhapress.
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