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O estímulo inflamatório provocado pela febre chikungunya, infecção que se multiplicou no País em 2016, pode funcionar como um gatilho para o desenvolvimento de artrite reumatoide em pessoas com predisposição genética para a doença. De natureza autoimune, crônica e progressiva, a artrite reumatoide afeta as articulações e pode provocar rigidez, desgaste ósseo e uma série de incapacidades para as atividades diárias.
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A relação entre artrite reumatoide e chikungunya foi um dos temas de destaque na última edição do Congresso Brasileiro de Reumatologia, no ano passado. Justamente em 2016, o número de casos de infecção pelo vírus no Brasil apresentou um aumento de 594% na comparação com o ano anterior. Foram 265.554 notificações, ante os 38.240 casos registrados em 2015, segundo o Ministério da Saúde. O aumento do número de mortes também foi expressivo, subindo de 14 para 159 de um ano para o outro.
Em 2017, a febre chikungunya continua a avançar no Brasil. Apenas no mês de janeiro foram notificados 300 casos da enfermidade em Minas Gerais, ante os 36 registrados no primeiro mês de 2016, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais.
Assim como a dengue e o zika vírus, a febre chikungunya é transmitida por mosquitos Aedes aegypti contaminados. Mas, embora existam sintomas comuns entre as três doenças, como dor de cabeça, febre e manchas vermelhas na pele, a infecção por chikungunya se difere das demais pelas manifestações articulares, muitas vezes acompanhadas de inchaço.
Comprometimento articular
Em sua fase inicial, a febre chikungunya costuma provocar dores nas costas e em várias articulações, especialmente das mãos e pés. Surgem também edemas articulares, muitas vezes associados a inflamações nos tendões. Com frequência os pacientes ficam incapacitados para realizar atividades cotidianas. Mas, se para a maioria dos pacientes esses sintomas tendem a desaparecer após duas semanas, parte deles tem as articulações comprometidas por meses ou até anos. A proporção de casos crônicos é variável, oscilando entre 4% e 63% na comparação entre epidemias ocorridas em diferentes países, como na França, África Sul e ilhas do Oceano Índico.
O quadro articular crônico associado à febre chikungunya é acompanhado de dor, limitação dos movimentos e deformidades, o que interfere na qualidade de vida das pessoas e acarreta um forte impacto econômico, considerando a perda ou a diminuição da capacidade produtiva. Mulheres acima de 45 anos, com doença articular preexistente e lesões articulares mais intensas na fase inicial da enfermidade são mais suscetíveis.
Artrite reumatoide
A origem da artrite reumatoide está relacionada a vários fatores, como a predisposição genética, a exposição a fatores ambientais (entre eles o cigarro) e possíveis infecções. Nesses pacientes, o sistema imunológico produz substâncias inflamatórias em excesso, que atacam especialmente a membrana sinovial, uma estrutura que recobre as articulações, estimulando o processo inflamatório.
“Existem várias hipóteses para explicar a conexão entre a febre chikungunya e a artrite reumatoide. Uma das possibilidades é a de que o vírus se alojaria justamente na membrana sinovial, desencadeando a doença reumática”, afirma a reumatologista Ieda Laurindo, doutora em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Nove de Julho.
Terapias
Apesar de não existir cura definitiva para a artrite reumatoide, existem tratamentos capazes de controlar a doença, principalmente quando o diagnóstico é feito precocemente. Com isso, é possível diminuir a atividade da enfermidade, aliviar a dor e melhorar a qualidade de vida do paciente.
Como a artrite reumatoide é uma doença autoimune, os medicamentos agem regulando essa autoimunidade exagerada. São os chamados medicamentos modificadores do curso da doença, conhecidos pelas siglas MMCDs (em português) ou DMARDs (em inglês). Há várias opções terapêuticas sintéticas e biológicas de MMCDs para AR, uma vez que a doença exige tratamento contínuo e a troca periódica de medicamentos.
Recentemente, a Pfizer trouxe ao Brasil uma nova classe de medicamentos sintéticos para o tratamento da artrite reumatoide. Administrado por via oral, XELJANZ (citrato de tofacitinibe) apresenta um mecanismo inovador que age dentro das células, inibindo a janus quinase (JAK), uma proteína importante nos processos inflamatórios característicos da enfermidade.
Primeiro tratamento oral, não biológico, tipo MMCD e alvo-específico desenvolvido para AR nos últimos 10 anos, XELJANZ acaba de ser incorporado à lista de medicamentos distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e deve estar disponível aos pacientes até o início do segundo semestre.
O portfólio da Pfizer para artrite reumatoide contempla também Enbrel (etanercepte), lançado em 2003 como o primeiro biológico subcutâneo com ação sobre o fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa), uma proteína que estimula o processo inflamatório relacionado à artrite reumatoide.