Colegas de Maria Eduarda afirmam que PMs atiraram em direção à escola

Adolescente foi morta com três tiros de fuzil dentro da unidade de ensino, na última quinta-feira (30)

© Reprodução

Justiça Rio de Janeiro 04/04/17 POR Notícias Ao Minuto

Testemunhas da morte da estudante Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, dentro da Escola Minicipal Jornalista Daniel Piza, no Rio de Janeiro, afirmaram que policiais do 41º BPM atiravam na direção da unidade de ensino no momento em que a adolescente foi baleada, com três tiros de fuzil, na última quinta-feira (30).

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As três testemunhas são alunos da escola, têm 13 e 14 anos, e estavam no local no momento em que o caso foi registrado. Segundo informações do jornal Extra, os jovens contaram que, no momento em que foi baleada, Maria Eduarda estava correndo, do portão principal do colégio para dentro do prédio.

"Estava chegando no colégio pela porta principal. A Duda veio na minha direção me encontrar, mas os tiros começaram e ela voltou e correu em direção à parte interna do colégio em busca de abrigo. Não deu tempo. Os PMs atiraram na direção da escola", contou um dos jovens.

Ao todo, 18 marcas de tiros foram encontradas no muro. No momento dos disparos, Duda estava a 10m de Alexandre Santos Albuquerque e Júlio Cesar Ferreira de Jesus — homens que, num vídeo, aparecem sendo executados por PMs. Uma grade os separava.

Alerj

Nessa segunda-feira (3), a família da garota Maria Eduarda teve um encontro com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). As informações são da Agência Brasil.

Segundo João Tancredo, advogado dos pais da estudante, a família não está satisfeita com a assistência que vem sendo oferecida pelas autoridades. “Eles [a família] estão destroçados. Precisam de tratamento psicológico imediato e o governo tem que arcar com isso”, disse.

Ele reclama que foi colocado à disposição da família pelo governo um psicólogo no centro do Rio, sem dar condições de transporte. “Na prática, não funciona. O psicólogo precisa estar próximo de casa”, argumentou.A menina estava na aula de educação física quando foi alvejada por três tiros - dois na cabeça e um no tronco - durante um confronto entre policiais e traficantes. O advogado ressaltou que não importa de onde veio o tiro, no que diz respeito à ação indenizatória, uma vez que Maria Eduarda estava dentro da escola.

Só quer justiça

O tio da menina disse que há um despreparo por parte da polícia nas ações em comunidades. “Temos sempre que observar tudo, porque infelizmente acontece [tiro] do nada. Acho que deve haver um preparo melhor em todas as áreas do estado”, disse.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, deputado Marcelo Freixo (Psol), informou que a comissão ofereceu apoio psicológico à família e vai garantir o direito que os parentes acompanhem as investigações que estão sendo feitas pela Polícia Civil. “Há outras perguntas, além de que arma saiu a bala, que o poder público precisa responder. Temos muitos policiais morrendo e matando e mais uma família destroçada. Que ação policial é essa em uma porta de escola, em um momento que tem vários jovens dentro da escola?” questionou o deputado.

Em frente à mesma escola, policiais militares atiraram em dois homens que estavam deitados no chão. A cena foi testemunhada em vídeo divulgado nas redes sociais e na imprensa mostra o momento em que os homens foram mortos. A Divisão de Homicídios e a Corregedoria da Polícia Militar investigam o caso.

Blindar muros

O prefeito Marcelo Crivella (PRB) informou nesta segunda-feira (3) que importou dos Estados Unidos uma argamassa especial para blindar os muros das escolas municipais em áreas consideradas de risco. Ele criticou operações da Polícia Militar próximo a escolas no horário escolar. “Isso nos preocupa muito. Temos 20 escolas que estão paradas. Ninguém pode governar uma cidade nessas condições, sem segurança. É importante discutir isso com a sociedade, polícia, Força Nacional de Segurança, pois não podemos ter mais crianças baleadas dentro de escola”, disse.

Crivella tem reunião marcada nesta quarta-feira (5) com representantes da área de segurança estaduais e federais. “Convidamos a todos. A execução da segurança não é do prefeito, mas do governo do estado, porém quero conversar sobre um projeto, pois o Rio de Janeiro não pode continuar do jeito que está”.

Para o presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, a argamassa não vai resolver o problema. “Nenhuma blindagem teria preservado a vida de Maria Eduarda, que estava no pátio. As crianças me relataram uma situação inimaginável. Conversei com o prefeito no enterro e disse que a melhor blindagem é a entrada de políticas públicas nas comunidades pobres. Precisamos de um esforço olímpico para construirmos escolas, hospital e áreas de lazer para esses jovens”, defendeu.

Antônio Carlos participou da reunião com os parentes de Maria Eduarda, na Alerj. Mais cedo ele passou por Manguinhos, zona norte, onde um senhor foi morto enquanto lia jornal na porta de casa.

Leia também: Nº 3 de facção é condenado a mais de 47 anos de prisão por morte em SP

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