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O casal Carla Ferreira e Adson Aguiar foi vítima de uma triste coincidência: ambos adoeceram durante semanas, ao mesmo tempo, em maio do ano passado. Eles foram infectados pelos vírus zika e chikungunya, também ao mesmo tempo. A dupla infecção veio para evidenciar a dimensão das doenças transmitidas pelo Aedes aegytpi na cidade.
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"Para uma pessoa contrair dois vírus diferentes transmitidos pelo mesmo mosquito é preciso que haja muita, muita infestação. E também muitos vírus em circulação. Não se trata de uma raridade médica, mas de uma situação recorrente e a ponta de um iceberg de epidemias que não foram embora. Isso mostra bem a gravidade da situação", explicou o coordenador do estudo e do Núcleo de Pesquisa em Artrite da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luis Roimicher, ao Extra.
Outros três casos de dupla infecção foram identificados por exames moleculares de PCR realizados pela equipe de Amílcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ. Um dos mais graves foi o de uma mulher que já sofria de hanseníase e contraiu zika e chicungunha. O Brasil é um dos únicos países que ainda não controlou a doença.
"O caso é particularmente sério porque ela já tinha uma lesão neurológica causada pela hanseníase.Só descobrimos a infecção simultânea porque essas pessoas aceitaram participar de um estudo. Então, houve uma análise molecular mais sofisticada, que é exceção e não regra. São dramas pessoais provocados por vírus que, há quatro anos, não existiam no Brasil", disse Roimicher.
O especialista se preocupa com a chegada das chuvas, que foi quando as doenças explodiram no ano passado. Em 2016, o aumento foi de 14.438,09% nos casos de doenças causadas pelo Aedes em relação a 2015. No total, foram registradas 15.265 ocorrências, contra 105 do ano anterior.
"O número de casos e o percentual de infestação pelo Aedes são menores até o momento porque, como em 2016, o verão teve pouquíssima chuva e, com isso, menos condições para a proliferação de mosquitos. Mas, se chover mais em abril e maio, a exemplo de 2016, a infestação poderá aumentar", afirmou o médico.
Roimicher alerta que "se os casos aumentarem muito, não há condições de atendimento. Já seria difícil para qualquer sistema de saúde. Com as dificuldades que atravessa o Rio, se torna inviável".
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