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Ao iniciar seu périplo pelos Estados Unidos para defender que o processo de impeachment que a tirou do poder foi um golpe, a ex-presidente Dilma Rousseff disse, neste sábado (8), que ela se preocupa com a eventual prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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"Me preocupa muito que mudem as regras do jogo democrático. Me preocupa que prendam o Lula. Me preocupa que tirem o Lula da parada", disse Dilma, na Brazil Conference, evento organizado por alunos brasileiros na Universidade Harvard, em Boston.
Segundo Dilma, há uma "possibilidade concreta" de que Lula ganhe as eleições presidenciais de 2018, se concorrer. "Infelizmente, para as oposições, ele tem nas pesquisas 38%, com tudo o que fizeram com ele", disse. "Deixa ele concorrer para ver se ele não ganha."
Falando pouco antes de um evento com o juiz Sergio Moro, na mesma conferência, Dilma criticou "o uso político e ideológico da Lava Jato" e disse que é "inadmissível" um juiz falar publicamente, fora do processo.
"Não é admissível juiz falar fora de processo, em qualquer lugar do mundo", disse.
"Não concordo com nenhum uso de law fare [uso da lei com fins políticos] porque compromete o direito de defesa. Não podemos em nome das vantagens desse combate [da Lava Jato], que é reduzir a distorção do gasto público brasileiro destinado à corrupção, comprometer o sistema democrático no Brasil", afirmou.
Dilma também não poupou críticas ao PMDB, do presidente Michel Temer, que disse ter sido "hegemonizado pela direita mais radical do Brasil", na figura do ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
A ex-presidente reconheceu como um de seus erros "não ter percebido na dimensão necessária" que a coalizão pela qual foi eleita, com o então vice Temer, estava no fim.
"Um centro que é hegemonizado pela direita deixa a coalizão muito difícil", disse. "O centro democrático do Brasil foi hegemonizado pela direita. O MDB velho de guerra foi hegemonizado pelo Eduardo Cunha. E o Eduardo Cunha não é grave porque ele é corrupto. Ele é grave porque é uma pessoa conservadora em termos econômicos, de civilização e extremamente preconceituosa."
GILMAR CRITICA CNMP
Mais cedo, no mesmo evento, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Gilmar Mendes, criticou o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) por se preocupar demais com os salários dos procuradores em meio à crise do sistema.O ministro disse ainda que o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), do qual foi presidente entre 2008 e 2009, quando esteve à frente do Supremo Tribunal Federal, "não está à altura de seu potencial". Segundo ele, a solução para os graves problemas do sistema prisional do país deve ser integrada entre os Poderes e essas organizações.
"Isso precisa ser integrado e este é o grande problema. Isso dá uma certa frustração no Brasil, porque há deficits dos mais variados", disse.
"Nós temos recursos, temos condições, estamos melhores do que ontem em termos institucionais: o CNJ, que tem condições de coordenar as ações no âmbito do Judiciário, o CNMP, que se quiser e não ficar tratando dos vencimentos dos próprios procuradores, pode tratar do tema", afirmou.
"Estou falando isso de maneira proposital porque o MP [Ministério Publico] é muito voltado pra si mesmo", completou. Mendes disse ainda que a questão deve ser tratada no âmbito nacional, e não estadual, como muitos defendem.
"A policia federal é da União. A legislação sobre direito penal, direito processual penal, execução penal é da União. Como dizer que esse é um tema dos Estados? É uma forma falsa de ver a temática", afirmou.
Segundo o presidente do TSE, "o crime é hoje, no mínimo, interestadual". "As organizações criminosas estão sediadas no Rio e São Paulo, e tem filiais em todos os Estados."
Mendes afirmou ainda que o "grave problema no Brasil é que a Justiça não julga". "Muitos reclamam da demora causada pelo foro privilegiado, mas o Brasil consegue fazer prescrever crimes de júri, ou seja, homicídios e tentativas de homicídio, que têm um prazo de 20 anos", disse. Com informações da Folhapress.