© Receita Federal / Divulgação
Policial federal fala com exclusividade à Sputnik: produtores e traficantes de países vizinhos utilizam o Brasil para consumo nacional e como rota para que suas drogas cheguem à Europa, aos Estados Unidos e à Ásia.
PUB
Somente nestes primeiros quatro meses de 2017, a Polícia Federal apreendeu quase 5,5 toneladas de drogas no Porto de Santos. Apenas nos dias 17 e 18 de abril foram feitas duas apreensões de cocaína em operações conjuntas com a Receita Federal.
A carga estava escondida em contêineres, e as autoridades acreditam que as drogas foram colocadas em seu interior sem o conhecimento dos proprietários da carga normal. De acordo com os policiais federais, porém, várias hipóteses estão sendo investigadas.
Flávio Werneck, vice-presidente da Fenapef – Federação Nacional dos Policiais Federais e presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal, explica em entrevista exclusiva à Sputnik como os traficantes de drogas encontram tantas facilidades para agir no Brasil:
"Primeiro de tudo, é importante esclarecer que nós temos quatro dos mais importantes produtores mundiais de drogas como nossos vizinhos", diz Werneck. "Nós temos grandes produções, de maconha e de cocaína, no Paraguai, na Bolívia, no Peru e na Colômbia. Os produtores e traficantes desses países utilizam o Brasil para consumo nacional e como rota para que suas drogas cheguem à Europa, aos Estados Unidos e à Ásia. Então, o Brasil é utilizado como consumidor e como ponte para que as drogas sejam utilizadas no país e no exterior."
Flávio Werneck está convencido de que o Brasil atende a um duplo propósito dos traficantes, mesmo não sendo considerado um grande produtor de drogas:
"No cenário internacional, o Brasil figura como produtor menor de drogas. A produção brasileira está localizada no chamado Polígono da Maconha, no Nordeste, na área do rio São Francisco. Cocaína o Brasil não produz, mas consome, e [o Brasil] serve de rota para que a droga chegue a outros países."
De acordo com o policial, falta ao Brasil uma efetiva política de Segurança Pública para que o tráfico internacional de drogas seja combatido com maior efetividade:
"Nós temos um problema crônico, que é o problema da Segurança Pública. Nós vimos debatendo isso há muito tempo e temos dificuldades em evoluir porque, no nosso sistema político, temos a necessidade de quase um consenso para que possamos evoluir e copiar modelos como, por exemplo, o norte-americano e o europeu continental."
Flávio Werneck acentua ainda que o Brasil tem fronteiras abertas com vizinhos que estão entre os maiores produtores mundiais de drogas (Paraguai, Peru, Bolívia e Colômbia).
"Fronteiras abertas, literalmente abertas. E por que isso acontece? Porque não temos uma política de soberania. A Polícia Federal deveria fazer o controle de portos, aeroportos e fronteiras secas. A gente faz isso mas faz de maneira muito reduzida, tendo em vista o número de policiais federais e a extensão das nossas fronteiras. Para se ter uma ideia: hoje, em torno de mil a 1.500 policiais federais estão cuidando das fronteiras secas. É esse o efetivo que temos para cuidar dos quase 15 mil quilômetros de fronteiras secas que temos com nossos países vizinhos. E nós temos 150 policiais federais para cuidar de fronteiras marítimas."
Sobre o que está acontecendo no Porto de Santos, Werneck diz que há "150 policiais federais para cuidar da polícia marítima, de 9 mil a 12 mil quilômetros de fronteiras marítimas (molhadas) e ainda dos 300 portos que temos no Brasil. Só o Porto de Santos exigiria esse efetivo da Polícia Federal para cuidar das suas necessidades".
A respeito do modo como os traficantes conseguem ter acesso aos contêineres, como no caso do Porto de Santos, para esconder suas drogas e conseguir que sejam transportadas para o exterior, Flávio Werneck explica:
"A gente [a Polícia Federal] tem três hipóteses sendo analisadas para definir de que modo os traficantes internacionais de drogas têm acesso aos contêineres em que escondem as drogas que entram e saem do Brasil, como é este caso específico do Porto de Santos.
A primeira hipótese é a de a própria empresa que utiliza o contêiner conceder alguma espécie de facilitação; a segunda é a da empresa dona do contêiner ter algum tipo de envolvimento com os traficantes; e a terceira é a de alguém, de dentro do sistema de controle de contêineres nos portos, ter algum tipo de ligação com o tráfico internacional de drogas. Tudo isso está sendo investigado." Com informações da Sputnik News Brasil.
Leia também: Bebê de 9 meses desaparece e pai é suspeito do sequestro