ONGs são acusadas de transportar criminosos no Mediterrâneo

Grupos populistas denunciaram "negócio da imigração" na Itália

© Reuters

Mundo Itália 23/04/17 POR Ansa

Responsáveis pelo resgate de milhares de pessoas no mar Mediterrâneo, as ONGs entraram na mira de políticos populistas e ultranacionalistas na Itália, que as acusam de agir em cumplicidade com traficantes de seres humanos e transportar criminosos para dentro do país.

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Neste domingo (23), o vice-presidente da Câmara dos Deputados Luigi Di Maio, expoente do partido antissistema Movimento 5 Estrelas, afirmou que essas entidades participam do "negócio da imigração" e que elas são pouco claras sobre quem as financia.   

"As ONGs são acusadas de um fato gravíssimo, de estar em conluio com os traficantes de seres humanos e de ter transportado criminosos", declarou Di Maio. Entre as instituições que operam missões de socorro no Mediterrâneo, estão as mundialmente conhecidas Médicos Sem Fronteiras (vencedora do Nobel da Paz em 1999), SOS Méditerranée e Save The Children, além de outras menos famosas, como a Migrant Offshore Aid Station (Moas).   

Elas entraram no radar de grupos anti-imigração por conta do aumento no número de deslocados externos que desembarcam em território italiano: entre 1º de janeiro e 19 de abril de 2017, foram 36,7 mil, contra 25,3 mil no mesmo período do ano passado, uma alta de 45%, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).   

As ONGs também são acusadas de atuar muito perto da costa da Líbia, o que atrairia um maior número de imigrantes, e de levar pessoas resgatadas à Itália para alimentar o "negócio" do acolhimento de solicitantes de refúgio. "Se é preciso fazer resgates, eles devem ser feitos com as regras da Marinha, e não com ONGs, que são acusadas de ser táxis no Mediterrâneo", acrescentou Di Maio.   

No entanto, a MSF e a SOS Méditerranée, por exemplo, costumam atuar em parceria e sob a coordenação da Guarda Costeira italiana, socorrendo barcos apontados pelas autoridades marítimas. "É preciso distinguir. Há a Médicos Sem Fronteiras e a Save The Children, que são organizações humanitárias, pagas e financiadas por privados e que vão ao mar com corajem para salvar vidas. Mas também há outras, como a Moas, muito obscuras, que operam em zonas de guerra e crise, com um grande poder de comunicação", disse o líder no Senado do partido conservador Força Itália (FI), Paolo Romani.   

Já a legenda ultranacionalista Liga Norte apresentou uma queixa na Câmara Alta para "desmascarar o jogo sujo das ONGs" e as acusou de "enriquecerem graças ao tráfico de imigrantes". "As ONGs estão há tempos salvando vidas no mar, e quem fala de acordos para o transporte de criminosos deve apresentar provas.   

Caso isso se confirme, estamos prontos a tomar distância, mas também estamos prontos a colocar a mão no fogo, até porque conheço bem a MSF, Moas, Save The Children e SOS Méditerranée", rebateu o diretor-geral da Anistia Internacional, Gianni Rufini.   

Por sua vez, o ex-primeiro-ministro da Itália Matteo Renzi acusou o Movimento 5 Estrelas de "fazer um anúncio publicitário". "Olham para as sondagens, veem que a questão migratória atrai atenção e se atiram nela. Eles não têm uma ideia clara, querem apenas ter uma posição para ganhar curtidas", atacou.   

Mas os movimentos populistas não estão sozinhos nessa batalha.   

Há alguns meses, Fabrice Leggeri, diretor-executivo da Frontex, agência da União Europeia para controle de fronteiras, dissera a um jornal alemão que as entidades humanitárias eram um "fator de atração" para deslocados externos em fuga.   

Por conta disso, a procuradoria de Catania, cidade na Sicília onde fica uma das bases da Frontex, abriu um inquérito, ainda sem investigados ou hipóteses de crime, para apurar a origem do financiamento que permite que as ONGs sustentem atividades de busca e socorro no Mediterrâneo Central.   

O Senado também vem realizando uma série de audiências com representantes das entidades. Em uma delas, no dia 12 de abril, Riccardo Gatti, coordenador da instituição espanhola Proactiva Open Arms, garantiu seguir as "regras do direito internacional e o exemplo da Guarda Costeira italiana".   

"A verdade é que se não houvesse mortos no mar, não estaríamos ali. Se nos transferíssemos das atuais 12 milhas marítimas da costa líbia para 30 milhas, deixaríamos desprotegidos 600 mil metros quadrados de mar", acrescentou.    Como os navios da Frontex não avançam além do litoral de Malta, eles acabam levando 10 horas para chegar à zona dos naufrágios.   

Por isso, nos últimos meses de 2016, cerca de 40% dos resgates foram feitos por ONGs. (ANSA)

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