Egito inaugura ciclo de viagens de Papa a países em guerra

Agenda internacional de Francisco em 2017 é focada na "paz"

© REUTERS/Amr Abdallah Dalsh

Mundo religião 27/04/17 POR Beatriz Farrugia

A ida do papa Francisco nesta sexta-feira (27) ao Egito abre a agenda de viagens internacionais do líder católico em 2017 e indica que a promoção da paz e a mediação de conflitos e guerras estarão ao centro de seus roteiros neste ano. Além do Egito, Jorge Mario Bergoglio visitará ao longo de 2017 países como Índia, Bangladesh, Colômbia e talvez o Sudão do Sul, que ainda não foi confirmado na agenda oficial.

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"Todos estes países se encontram em regiões que são palco de violências. Francisco parece traçar com estas visitas um itinerário que lhe permite se aproximar dos povos que mais sofrem e onde é mais difícil o diálogo entre as religiões", disse, em entrevista à ANSA, a professora de Relações Internacionais e especialista em diplomacia religiosa Anna Carletti, italiana radicada no Brasil. O Papa desembarcará no Egito em meio a um forte clima de instabilidade política e de riscos de atentados terrorista, e há apenas 20 dias da explosão de duas igrejas cristãs coptas, ataques cometidos pelo Estado Islâmico (EI) que deixou mais de 30 mortos. Apesar das ameaças de grupos extremistas, Francisco manteve a viagem e não quis usar um carro blindado para seus deslocamentos no país. De acordo com o próprio Vaticano, o Papa quer ser visto como um "peregrino da paz" e se mostrar próximo das vítimas de guerras e perseguições.

"Esta visita ao Egito é particularmente simbólica porque é resultado de quatro convites provenientes das autoridades políticas e religiosas do país: do presidente Abdel Fattah al-Sisi, dos bispos católicos, do imã Ahmad al-Tayyib e do papa Tawadros II, patriarca da Igreja Ortodoxa Copta. Francisco conseguiu atrair a atenção dos interlocutores mais importantes da sociedade egípcia", disse Carletti.   

"Sabemos claramente que cada um destes interlocutores tem seus objetivos se aproximando do Papa. Mas, para Bergoglio, esta é uma ocasião preciosa para poder elevar sua mensagem de promoção do diálogo interreligioso e tentar, com isso, frear a violência dos grupos islâmicos mais radicais", ressaltou.

A comunidade católica no Egito representa uma das minorias religiosas. Os católicos coptas são apenas 1% da população local, enquanto os cristãos coptas não passam de 10%. O atual patriarca de Alexandria Ibrahim Isaac Sidrak é o chefe da Igreja Católica Copta e das sete dioceses que a compõem. Os católicos e cristãos têm sido alvo de perseguições desde 1970, com o processo de islamização no governo de Muhammad Anwar Al Sadat .

A marginalização social se concretizou na gestão recente de Mohamed Morsi, ligado à Irmandade Muçulmana. Após sua deposição, em 2013, os cristãos passaram a ser perseguidos por grupos extremistas, e não mais pelo governo, já que o general Abdel Fatah al-Sisi respeita os coptas e promove uma caça às organizações terroristas, que, por sua vez, descontam em ataques a seguidores de outras religiões.

"A mensagem que o Papa levará ao Egito será de paz, e o encontro com os líderes políticos e religiosos do Egito tem como objetivo mostrar que o diálogo é possível, principalmente entre cristãos e muçulmanos", disse a especialista em diplomacia vaticana.

De acordo com Carletti, o encontro de Francisco com o imã Ahmad al-Tayyib, chefe da Universidade Al- Azhar, o mais prestigioso centro acadêmico do mundo sunita, sinalizará o estreitamento das relações interrompidas seis anos antes pelo próprio imã, quando acusou o então papa Bento XVI de ingerência nos assuntos do país.   

"Na ocasião, Bento XVI convidou os governos locais a evitarem as perseguições contra os cristãos. Tal ruptura parece exagerada, já que o próprio papa Francisco também fez apelos parecidos em várias ocasiões e não provocou nenhuma reação assim", comentou a professora.

Quando pisar no Cairo, Francisco estará diante da sua primeira tentativa concreta de tecer uma rede, uma espécia de aliança, entre várias igrejas, a católica, a ortodoxa e os representantes muçulmanos, para dar mais visibilidade às vozes moderadas do Islã. Caso tenha sucesso, o modelo estratégico deverá seguir "na mala" pelas outras viagens do Papa, que desde 2013, quando assumiu a Igreja Católica, mostra-se cada vez mais um articulador diplomático e intermediador de crises. (ANSA)

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