© Ueslei Marcelino
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) agiram "em articulação" para impedir avanços da Lava Jato.
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Em pedido de abertura de investigação contra Temer acatado pelo ministro Edson Fachin, relator da operação no STF (Superior Tribunal Federal), Janot diz que "Aécio Neves, em articulação, dentre outros, com o presidente Michel Temer, tem buscado impedir que as investigações da Lava Jato avancem, seja por meio de medidas legislativas, seja por meio do controle de indicação de delegados da polícia que conduzirão os inquéritos".
O procurador-geral conclui que o material colhido na delação do frigorífico JBS mostra que a propina paga pela empresa ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e a Lucio Funaro, operador do primeiro, servia para mantê-los em silêncio.
"Existem, ainda, elementos que apontam para diversos atos realizados com o intuito de impedir ou, de qualquer forma, embaraçar a investigação dos crimes praticados. Depreende-se do material colhido que o pagamento de propinas ao ex-deputado federal Eduardo Cunha e ao doleiro Lucio Funaro, mesmo depois dos mesmos estarem presos, tem, se não como motivação única, mas certamente principal, garantir o silêncio deles ou, ao menos, a combinação de versões", escreveu Janot.Ele ainda cita nominalmente Temer como interessado no silêncio dos dois presos: "Depreende-se dos elementos colhidos o interesse de Temer em manter Cunha controlado".
No mesmo documento, há trecho da gravação de uma conversa entre Joesley e o senador Aécio Neves em que o tucano afirma que teria tentado organizar um esquema com Temer e Alexandre de Moraes, ministro do STF e e ex-ministro da Justiça, para influenciar a indicação de delegados nas investigações da Lava Jato.
"O que vai acontecer agora [após delação da Odebrecht], vai vir inquérito sobre uma porrada de gente, caralho, eles aqui são tão bunda mole, que eles não notaram o cara que vai distribuir os inquéritos para os delegados. Você tem lá, sei lá, dois mil delegados na Polícia Federal, aí tem que escolher dez caras. O do Moreira, o que interessa a ele, sei lá, vai pro João, o do Aécio vai pro Zé. O outro filho da puta vai pro, foda-se, vai pro Marculino, nem isso conseguiram terminar, eu, o Alexandre e o Michel", disse Aécio a Joesley.
Não há referência à data que o plano foi montado, porém, o contexto dá a entender que teria sido elaborado enquanto Moraes era ministro da Justiça, entre maio de 2016 e fevereiro de 2017. A Polícia Federal é subordinada ao Ministério da Justiça.A estratégia não foi concluída, segundo Aécio.
OUTRO LADO
"Não existe qualquer ato do senador Aécio Neves, como parlamentar ou presidente do PSDB, que possa ter colocado qualquer empecilho aos avanços da Operação Lava Jato. Ao contrário, como presidente do partido, o senador foi um dos primeiros a hipotecar apoio à operação", disse o senador, por meio de nota.
"Em relação aos comentários feitos em conversa privada sobre delegados da Lava Jato, o senador emitiu uma opinião em face da demora da conclusão de alguns inquéritos. O senador Aécio Neves jamais agiu ou conversou com quem quer que seja no sentido de criar qualquer tipo de empecilho à Operação Lava Jato ou à Polícia Federal, que sempre teve seu trabalho e autonomia apoiados pelo senador em suas agendas legislativas, e também como dirigente partidário", prossegue o comunicado. Com informações da Folhapress.
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