© Reuters / Regis Duvignau
"Que ideia estúpida!", disse o cineasta Jean-Luc Godard, que não se mostrou muito lisonjeado quando soube que preparavam uma cinebiografia a seu respeito.
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A tal "ideia estúpida" se chama "Redoutable" e estreou na competição do Festival de Cannes dividindo opiniões, como era esperado. O filme, do diretor Michel Hazanavicius, mira Gordard, mas acerta Woody Allen.
É que no filme o expoente da nouvelle vague é pintado como um sujeito neurótico e algo patético. O roteiro faz um recorte temporal: encontramos Godard oito anos após ele ter lançado "Acossado" (1960), com o qual havia balançado os alicerces do cinema, e nas raias da iconoclastia que marcaria 1968 na França e não pouparia nem o seu prestígio.Godard está apaixonado por Anne Wiazemsky, atriz de 17 anos que virou sua nova musa. Mas ele é um misantropo e leva a mesma irredutibilidade de posições que marca seu cinema e sua radicalidade política para o relacionamento.
Na pele de Godard está Louis Garrel, no papel que talvez seja o mais distinto de sua carreira -o primeiro, talvez, em que não esteja interpretando a si mesmo.Da mesma forma como fez no oscarizado "O Artista" (2011), outra homenagem ao cinema, Hazanavicius entope "Redoutable" de referências do que retrata, mas não propõe qualquer radicalização estética que honre o objeto de sua homenagem, algo que levou parte das críticas a chamar seu filme de um pastiche de Godard.
"Louis estava muito preocupado com a opinião dos fãs de Godard", disse Hazanavicius na coletiva de imprensa logo após a sessão do filme. "Mas eu disse que não me importava, que a maioria das pessoas não está nem aí para Godard."A declaração pareceu irritar Garrel, que interrompeu seu diretor: "Isso é absurdo. É o mesmo que dizer que as pessoas não estão nem aí para Caravaggio", afirmou o ator de 33 anos, frequentemente apontado como sucessor da fleuma da nouvelle vague.
Coube à atriz Berenice Bejo, coadjuvante em "Redoutable", fazer o deixa-disso entre os dois: "Há muitos que não estão nem aí até para o cinema."
NETFLIX VAIADA (DE NOVO)
Inimiga favorita desta edição do festival, a Netflix foi vaiada mais uma vez, agora durante a exibição de "The Meyerowitz Stories", que junto de "Okja" é um dos dois títulos do serviço de vídeo sob demanda em competição em Cannes.
Assim que o seu logotipo surgiu na tela durante a sessão de imprensa, a empresa americana recebeu um "uuuuuuu" de parte expressiva dos jornalistas. A polêmica se deve à decisão da Netflix de não lançar essas duas produções diretamente em sua plataforma, ignorando as salas de cinema, o que enfureceu boa parte do setor.
"Meyerowitz" é uma comédia dirigida pelo americano Noah Baumbach, que segue todo o receituário hipster dos filmes do diretor: as relações disfuncionais, os personagens excêntricos e a sucessão de esquetes no limite do "nonsense".Dustin Hoffman vive o patriarca da família, um escultor que já teve lá sua importância e que ainda não se deu conta do próprio ostracismo. Tem três filhos, vividos por Bem Stiller, Elizabeth Marvel e Adam Sandler -sim, ele mesmo, o rei do besteirol americano no festival europeu que reúne a elite do cinema autoral.
Baumbach não se safou de ter que responder à pergunta mais recorrente no festival: O que acha da controvérsia entre Netflix e cinemas tradicionais?"Nós vamos exibir na tela grande. O Dustin tem uma tela grande na casa dele", disse. E depois foi sério: "Só posso agradecer pelo apoio que deram ao filme." Com informações da Folhapress.
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