Sofia Coppola atenua tensão sexual em seu novo thriller feminino

O longa que ela apresenta neste ano chama-se "O Estranho que Nós Amamos"

© REUTERS/Regis Duvignau

Cultura CANNES 24/05/17 POR Folhapress

Em sua primeira vez em Cannes, em 1979, Sofia Coppola veio no colo do pai, Francis Ford Coppola. O cineasta a trouxe para comover os jornalistas e evitar ser massacrado por "Apocalypse Now". Nem precisava, o filme levou a Palma de Ouro. Já Sofia, que também se tornou diretora, voltou ao festival em 2006, com "Maria Antonieta", e foi esculachada.

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O longa que ela apresenta neste ano, "O Estranho que Nós Amamos", não repete a avacalhação, mas está longe, bem longe, de ser memorável. Em sua tentativa de produzir um thriller com olhar feminino, Sofia pasteurizou a tensão sexual que é a graça do livro "A Painted Devil", de Thomas P. Cullinan.

Na nova versão, que estreou mundialmente nesta quarta (24) em Cannes, Colin Farrell vive um soldado ferido durante a Guerra Civil americana que encontra abrigo num internato feminino isolado no lado inimigo, ao sul do front.

Ali, a religiosa Miss Martha (Nicole Kidman) e suas seis pupilas são sacudidas pela chegada do soldado. E as sexualidades reprimidas afloram nas mais velhas, interpretadas por Kirsten Dunst e Elle Fanning.

"Achava interessante a ideia de uma escola de mulheres de várias idades em meio à Guerra Civil. Mas quis contar a história do ponto de vista feminino", disse Sofia Coppola na entrevista coletiva mais disputada da edição.

A opção por esse ponto de vista faz sentido para uma diretora que levou às telas tramas semiautobiográficas sobre a vidinha vazia de meninas que cresceram orbitando os holofotes hollywoodianos -caso de "Encontros e Desencontros" (2003), "Um Lugar Qualquer" (2010) e "Bling Ring" (2013). Os detratores os chamam de "drama de pobre menina rica".

A ironia é que enquanto Sofia se notabilizou por obras sobre mulheres, a primeira adaptação da obra de Cullinan é carregada de machismo. Também chamado "O Estranho que Nós Amamos", o filme de 1971 é dirigido por Don Siegel e protagonizado por Clint Eastwood, a mesma dupla de "Dirty Harry".

Mas se Sofia atualiza os temas do livro e o despe do machismo que marca a versão cheia de mulheres terríveis da versão de Siegel, por outro lado ela dilui sua carga sexual que transformava a obra numa peça cult e transgressora.

"Nunca tentei fazer uma refilmagem. É para ser a minha versão", disse a cineasta, que refuta a ideia de que tenha feito um longa feminista. "Deixo para o público como interpretá-lo. Para mim, é só o ponto de vista feminino."

O novo filme tem os elementos que marcam a filmografia de Sofia, como a relação entre entre o mundo interior e o exterior, e a feminilidade enjaulada. Só não tem as referências pop, como a moda e a música, embora mesmo num filme de época como "Maria Antonieta" a diretora tenha dado um jeito de inseri-las.

A filha de Coppola defendeu que seu filme fosse visto na tela grande, respondendo à pergunta que já virou clichê nesta edição do festival e que tem a ver com o embate entre Netflix e salas de cinema.

Ao seu lado, Colin Farrell tomou a palavra: "Vocês já viram um vídeo no YouTube em que David Lynch fala sobre a porcaria que é ver filmes no celular?", perguntou e começou uma imitação do diretor cheia de palavrões. "É lindo."

Sua parceira de cena, Nicole Kidman foi comedida. A atriz aparece em duas séries de TV, "Big Little Lies" e "Top of the Lake" -essa última teve sua primeira exibição nesta semana, em Cannes.

"À beira dos 50 anos, nunca tive tantas oportunidades de trabalho graças a essas novas plataformas", disse Kidman.

PARADO E SEM VIDA

Outro título exibido em disputa pela Palma de Ouro foi "Rodin", cinebiografia do veterano francês Jacques Doillon que enfoca a relação do escultor, vivido por Vincent Lindon, com sua discípula Camille Claudel (Izia Higelin).

Teve a pior recepção até agora entre os longas da competição. De ritmo maçante e estilo convencional, mal teve aplausos em sua sessão de imprensa. Foi até xingado de "cinema de velho".

Para o jornal britânico "The Guardian", "Doillon esculpe um excruciante filme ruim". A "Hollywood Reporter" escreveu que é "parado e sem vida, como um velho pedaço de mármore". (Folhapress)

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