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Na última semana, a divulgação do conteúdo da delação premiada dos donos da J&F, holding que controla a JBS, elevou a um novo patamar a já bastante tumultuada crise política no Brasil. Em meio a denúncias envolvendo políticos de inúmeros partidos e ideologias, o país tenta se reequilibrar sem saber como será o amanhã.
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Em depoimento às autoridades, os irmãos Joesley e Wesley Batista e outros executivos do grupo empresarial revelaram um grande esquema de propina, no valor de R$ 1,4 bilhão, que atingiu em cheio alguns dos nomes de maior destaque da política brasileira, incluindo o presidente da República, Michel Temer (PMDB). Ao todo, 1.829 políticos de 28 partidos teriam sido beneficiados, números bastante similares àqueles da empreiteira Odebrecht: R$ 1,7 bilhão aproximadamente para 26 partidos, em troca de benefícios diretos e indiretos no setor público.
Com a popularidade abalada por projetos de reformas austeras, Temer foi gravado, em março, em conversa polêmica com Joesley no Palácio do Jaburu, na qual, segundo acusação, teria endossado o pagamento de mesada ao deputado cassado Eduardo Cunha, antecipado o corte da taxa Selic pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) e ignorado relatos de interferência do empresário em uma investigação. O arquivo de áudio desse diálogo, que está sendo analisado pela Polícia Federal, é um dos pontos altos de uma crise que vem se arrastando desde 2014, primeiro, apenas na esfera econômica e, depois, também na política. Apesar da situação insustentável criada com tudo isso, o atual chefe de Estado, que chegou ao poder após um processo de impeachment, questionado por muitos, da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), se agarra ao cargo como pode, recusando a possibilidade de renunciar, mesmo com um inquérito aberto contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva, obstrução da Justiça e organização criminosa, e dos 13 pedidos de impeachment protocolados.
Brasília em chamas
Enquanto analistas fazem prognósticos e aliados e oposição se preparam para um cenário pós-Temer, o país segue pegando fogo. Na última quarta-feira, 24, em Brasília, eventos bastante violentos durante uma marcha popular contra o governo deram o tom do início de uma nova fase desse filme de terror.
Desde antes da delação da JBS, a insatisfação da população com Michel Temer já o colocava como uma das figuras mais impopulares da história nacional, com apenas 4% de aprovação, de acordo com a consultoria Ipsos. Muito por conta das reformas trabalhista e da Previdência, colocadas como grandes prioridades da sua administração para retomar o crescimento econômico, mas consideradas um ataque aos diretos dos trabalhadores pela maioria. Foi contra isso, contra a brusca mudança de regime e contra a insistência de Temer em permanecer na presidência após uma série de escândalos que milhares de pessoas ocuparam ontem as vias da capital federal, onde algumas delas entraram em confronto com a polícia e realizaram ataques contra o patrimônio público. O saldo foi de dezenas de feridos.
Com o objetivo de conter os opositores e demonstrar força, o presidente deu um passo adiante e recorreu à Garantia da Lei e da Ordem (GLO), acionando, pela primeira vez, as Forças Armadas, desde a criação da GLO, para agir contra manifestantes, decisão que foi alvo de duras críticas da oposição e de setores da sociedade civil.
Estado de exceção! Mais de 150 mil manifestantes são reprimidos com bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral. #DiretasPorDireitos pic.twitter.com/H4Wud2d8cP
— Mídia NINJA (@MidiaNINJA) 24 de maio de 2017
Lógica da Fazenda
Apesar do desemprego recorde, da instabilidade e da falta de recursos em diversas áreas e regiões do país, nas últimas semanas, a economia brasileira começou a apresentar alguns sinais positivos, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) registrando, em maio, 3,77% no acumulado de 12 meses (melhor resultado desde julho de 2007), o Fundo Monetário Internacional (FMI) mantendo as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a inflação se mantendo controlada, com projeção anual de 3,92%, abaixo da meta estipulada pelo Banco Central, de 4,5%.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), que esteve à frente do conselho consultivo da J&F por quatro anos e é cogitado para assumir o governo em uma possível eleição indireta, atribui o alegado sucesso da recuperação econômica às medidas de austeridade adotadas pela atual gestão, destacando a importância da rápida aprovação das impopulares reformas trabalhista e da Previdência.
Por mais que a população tenha deixado clara sua aversão a essas reformas, Meirelles garantiu a empresários que elas avançarão no Congresso, com ou sem Temer. Ou seja, razões básicas da grande rejeição a Michel Temer, segundo o ministro, não deverão cair com ele.
Deputados noturnos
Os últimos dias foram marcados por impasses que levaram muita gente a duvidar da capacidade do Brasil de seguir em frente, funcionando, sem uma definição do quadro político geral. Com a prisão e a debandada de aliados próximos ao presidente Temer, expectativas frustradas de renúncia, troca de acusações e ânimos exaltados, era esperada uma grande paralisia nacional. Mas, na última noite e início desta madrugada, deputados da base deram um show de produtividade. Aproveitando a ausência dos parlamentares da oposição, que se retiraram da Câmara em protesto contra a militarização de Brasília, conseguiram aprovar sete medidas provisórias em pouquíssimo tempo, incluindo uma que prevê reajustes salariais para servidores federais e outra sobre regularização de terras.
Neste momento de suposta paralisia política, muitas forças seguem se movendo, e rápido, na política brasileira. Com informações do Sputnik Brasil.
Estado de exceção! Mais de 150 mil manifestantes são reprimidos com bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral. #DiretasPorDireitos pic.twitter.com/H4Wud2d8cP
— Mídia NINJA (@MidiaNINJA) 24 de maio de 2017