© Reuters / Yuri Gripas
A administração Donald Trump começou a devolver para o Congresso dos EUA as cópias de um volumoso relatório do Senado de 2014 sobre o programa de detenção e interrogatório da CIA (Agência Central de Inteligência), segundo fontes do governo ouvidas pelo jornal "The New York Times" e pela agência de notícias Reuters.
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A ação do governo Trump deve dificultar que o conteúdo do relatório de 6.700 páginas se torne público, já que documentos em posse do Congresso estão fora dos alcance das leis de acesso à informação americanas.
A Casa Branca agiu em resposta aos pedidos do senador republicano Richard Burr, atual presidente do Comitê de Inteligência do Senado, que argumentou que o relatório é má qualidade e excessivamente crítico à CIA.
O sumário executivo do documento, tornado público no final de 2014, descreve as técnicas utilizadas pela agência de inteligência americana para obter informações sobre a Al-Qaeda nos anos que se seguiram aos atentados do 11 de Setembro e conclui que foram mais brutais e menos efetivas do que a agência admitiu para a Casa Branca, o Pentágono ou o Congresso.
Pode-se ler no relatório detalhes das torturas a que foram submetidos detentos em prisões clandestinas pelo mundo, como espancamentos, simulações de afogamento, privação do sono por mais de uma semana e até alimentação retal.
Ao todo, segundo o texto, 119 prisioneiros passaram pelas instalações secretas da CIA a partir de 2002. Destes, 26 foram detidos sem se enquadrar nos critérios do "Memorando de Notificação", assinado pelo presidente George W. Bush em 2001, que autorizava a agência a capturar indivíduos envolvidos com atividades terroristas.
Os registros da CIA mostram que 39 prisioneiros foram torturados. Devido aos abusos, muitos deram informações falsas aos agentes, levando a operações fracassadas. De acordo com o documento, nenhum ataque terrorista foi frustrado em decorrência dos interrogatórios.
O senador Burr chamou o relatório de nada mais do que uma "nota de rodapé na história". A comissão que preside está agora conduzindo uma investigação sobre se algum membro da campanha de Donald Trump teve papel na ação russa para influenciar a campanha presidencial do ano passado.
A senadora democrata Dianne Feinstein, que presidiu o comitê de inteligência quando o relatório foi produzido, pediu que ele fosse distribuído a várias agências de órgãos executivos, um movimento destinado a torná-lo público, de acordo com a lei de acesso à informação dos EUA.
Após o pedido de Burr, Feinstein disse que estava "preocupada e desapontada" com o fato do senador republicano ter solicitado que o documento fosse devolvido ao Congresso.
"Nenhum senador, presidente [da comissão] ou não, tem a autoridade para apagar a história. Eu acredito que essa é a sua intenção neste caso", disse. Com informações da Folhapress.
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