© Nacho Doce/Reuters
O prefeito João Doria (PSDB) quebrou, na manhã deste sábado (3), o silêncio que mantinha há nove dias sobre as ações feitas na Cracolândia. Doria voltou a responder o assunto a jornalistas só após o Datafolha mostrar, também neste sábado, que 80% dos paulistanos defendem a internação à força de usuários de crack.
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A medida aprovada pela maioria dos moradores da capital é uma das principais bandeiras da gestão do tucano para combater o problema na capital paulista.
"Eu tenho evitado fazer comentários sobre a Cracolândia, mas a pesquisa eu comento sim", disse Doria. A declaração ocorreu durante a 23ª ação do programa Cidade Linda, que, neste sábado, foi realizada na avenida República do Líbano (zona sul).
O prefeito vinha se recusando a falar sobre o tema com jornalistas desde o dia 25. As posições de Doria sobre a Cracolândia têm sido alvo de críticas de órgãos como o Ministério Público e a Defensoria Pública do Estado.
Em eventos públicos, quando questionado sobre as medidas tomadas em relação à população de usuários de drogas, ele sempre delegava as respostas a algum secretário presente. Nos nove dias em que se absteve de comentar o assunto à imprensa, Doria foi às redes sociais e disse, no dia 29, que não iria recuar. "Não vamos abandonar nossa ação contra os traficantes, contra os bandidos", disse.
Agora, Doria comemorou o resultado da pesquisa do Datafolha e afirmou que os números do levantamento mostram que suas decisões seguem o que pensam a maioria dos moradores. "A pesquisa reflete um bom sentimento, a atitude correta da prefeitura de São Paulo, daqueles que têm o melhor sentimento. Não é um sentimento partidarizado. Não é sentimento ideológico", afirmou.;
Aos jornalistas, Doria voltou a reafirmar que não voltará atrás em relação às ações na Cracolândia. "Vamos seguir nosso caminho. Não tem volta. Não tem revés. Não tem covardia."
PESQUISA
O Instituto Datafolha ouviu 1.125 pessoas na cidade nesta última quinta-feira (1º) após 11 dias da ação policial na antiga Cracolândia comandada por Geraldo Alckmin (PSDB), que prendeu traficantes e desobstruiu vias onde havia uma feira de drogas a céu aberto.
A maioria (80%) dos moradores de São Paulo defende a internação à força para tratamento de usuários de crack, enquanto metade aprova o desempenho do prefeito João Doria nas recentes ações na Cracolândia e acredita que não é possível solucionar esse problema na capital paulista.
O instituto também perguntou aos moradores: se um dependente não demonstra capacidade para tomar decisões por conta própria e a família se mostrar a favor de sua internação para o tratar o vício, ele deveria ou não ser internado mesmo assim? 95% responderam sim, e 5%, não.
Diante de situação em que a família do usuário não é localizada, a resposta foi parecida -88% sim, 11% não, e 1% não soube responder.
AÇÃO POLICIAL
A operação ocorreu no dia 21 por iniciativa do Estado e pegou a prefeitura desprevenida. O programa anticrack de Doria não estava pronto, mais isso não impediu que o prefeito comemorasse o sucesso da "parceria" com o governo estadual e decretasse o fim da Cracolândia.
Mas o "fluxo" de viciados que vivia ali se mudou nos dias seguintes para a praça Princesa Isabel, a cerca de 400 metros do antigo ponto, e criou a nova Cracolândia da região central, com quase mil pessoas. Em determinado momento da semana passada, havia ao menos 23 pontos com dependentes químicos apenas na região central.
Apesar desses entraves, para 48% o desempenho de Doria tem sido ótimo ou bom nesse tema. Outros 25% acham regular e 23%, ruim ou péssimo. No caso de Alckmin, a aprovação é de 29%.
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