© REUTERS/Michael Dalder
No extremo sul da cidade São Paulo, a 60 quilômetros do centro, onde remanescentes de Mata Atlântica da Serra do Mar resistem à expansão urbana, a natureza ainda reserva surpresas. Uma nova espécie de sapo, de apenas 3 centímetros, acaba de ser descrita habitando a região.
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O achado passou despercebido aos olhos da ciência por muitos anos. Imaginava-se que o sapinho era membro de outra espécie já conhecida, a Hylodes phyllodes, apesar de ela ser bem menor. Eles eram catalogados juntos em coleções de museus.
Ainda nos anos 1990, o animal chamou a atenção do herpetólogo Célio Haddad, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, um dos maiores especialistas em anfíbios do Brasil. Durante trabalho de campo na região de Paranapiacaba, um exemplar da nova espécie pulou em meio aos outros animais bem à sua frente. "Vi que era algo que não batia com nada que a gente conhecia", conta. Mas como era apenas um indivíduo, não foi possível fazer uma descrição.
Caberia a um aluno de Haddad, o biólogo Leo Malagoli, que faz doutorado na Unesp, desvendar o mistério. Na semana passada, um artigo descrevendo o Hylodes caete foi publicado na revista científica Herpetologica. Hylodes vem do grego para rio. Caete faz referência às matas maduras que ainda existem nas franjas da cidade, onde a espécie vive.
Investigando a diversidade de anfíbios em São Paulo - levantamento dele anterior mostrou que pelo menos 80 espécies diferentes ocorrem na metrópole -, Malagoli se deparou com o sapinho na parte paulistana do Núcleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar, ao sul de Parelheiros.
Canto novo
Além de maior (3,1 cm em média contra 2,8 da espécie-prima) e com uma coloração mais escura, o que o entregou foi seu canto peculiar. "Como as duas espécies ocorrem juntas, o canto começou a me chamar atenção. Vi os dois lado a lado e pensei: quem é esse outro que está cantando assim tão diferente?." O áudio não deixa dúvida. Num bate-papo com o H. phyllodes, o H. caete parece falar uma outra língua. Mas os dois devem se entender, porque ficam lá cantando, um em resposta ao outro.
A prova final viria com análises moleculares, que mostraram que geneticamente os bichos são diferentes. Os autores descrevem a espécie como endêmica da Serra do Mar, relacionada às encostas e riachos encachoeirados, a mais de 700 metros de altitude, e de hábitos diurnos.
"Temos a ilusão de que a Mata Atlântica é conhecida, mas esse estudo traz mais uma evidência de que mesmo em áreas já bem estudadas ainda há muita coisa que não sabemos. Está cheio de espécie sem nome na Mata Atlântica e provavelmente extinguimos um monte antes mesmo de conhecê-las. Muitas, quando descobrimos, já estão ameaçadas", diz Haddad, que orientou o trabalho. "É incrível que uma cidade desse tamanho, com tanta poluição, tenha essa riqueza no seu entorno. É preciso mais que nunca falar em conservação."
Foto ilustrativa