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Morreu nesta quarta-feira (14), aos 92, Ernestina Herrera de Noble, diretora do jornal "Clarín" e principal acionista do conglomerado de meios Grupo Clarín, um dos maiores da América Latina.
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Herrera de Noble assumiu a função em 1969, logo após a morte do marido, o fundador do diário, Roberto Noble. Transformou-se, assim, na primeira mulher a dirigir um jornal de grande circulação na região.
Sob seu comando, o Grupo Clarín se transformou no principal da Argentina e multiplicou suas atividades em várias plataformas.
Hoje, o jornal em papel tem uma circulação de 240 mil cópias e seu sítio web recebe 8 milhões de visitantes por dia. A principal fonte de recursos do Grupo vem da TV paga (Cablevisión) e do provedor de internet (Fibertel).
Em uma de suas raras entrevistas, Herrera de Noble disse que o "Clarín" identificava-se "com o argentino e a argentina que lutam para chegar ao fim do mês, com os que têm dois empregos para dar uma boa educação a seus filhos."
Quanto à linha editorial, a definia como "independente, objetiva e imparcial". Tendo como principal rival o "La Nación", cuja circulação hoje é de 150 mil cópias diárias, o "Clarín" foi sempre pioneiro nas reformas gráficas e no lançamento de novos produtos.
A relação do diário com o poder nem sempre foi homogênea. Durante o regime militar (1976-1983), o "Clarín" calou-se com relação à repressão cometida pelo Estado. Depois da redemocratização, Herrera de Noble defendeu-se das críticas sobre este assunto alegando que tinha sofrido pressão por parte dos generais. Por outro lado, o grupo também cresceu durante o regime, comprando junto com o "La Nación" a única fábrica de papel-jornal do país, a Papel Prensa.
Já nas gestões de Carlos Menem (1989-1999) e de Néstor Kirchner (2003-2007), o "Clarín" primeiro adotou uma linha editorial favorável ao governo, para depois posicionar-se em aberta oposição.De ambos, recebeu concessões que lhe permitiram transformar-se no grupo que hoje possui, além do principal jornal, a principal emissora de TV aberta, o principal provedor de TV a cabo e de internet e a principal rádio do país.
O desacordo com relação à política econômica, porém, fez com que o "Clarín" acirrasse suas críticas tanto a Menem quanto a Kirchner nos últimos anos de seus mandatos.
BRIGA COM CRISTINA
Mas seu momento de maior enfrentamento com o governo se daria no governo de Cristina Kirchner (2007-2015).
Em 2008, o jornal se posicionou a favor dos produtores rurais quando estes se manifestaram contra um novo imposto. A chamada "crise com o campo" marcou o início dos avanços de Cristina contra o "Clarín".
Além de pressionar anunciantes para que não publicassem publicidade em suas páginas, o governo formulou e conseguiu aprovar no Congresso a Lei de Meios, que obrigou o Clarín a desfazer-se de parte de suas empresas.
Ao mesmo tempo, Cristina celebrava em seus discursos o refrão "Clarín miente" (o Clarín mente).
O "Clarín" respondeu ao assédio adotando uma política editorial dura contra Cristina, destacando jornalistas a revelar e expor os casos de corrupção do kirchnerismo, além de criticar sua política econômica.
O governo contra-atacou, acirrando as suspeitas, já levantadas por grupos de direitos humanos, de que os dois filhos adotivos de Herrera de Noble poderiam ter sido bebês roubados pelos militares.
Após anos de pressão judicial, em que ambos foram levados a fazer exames de DNA contra a vontade, a saga teve fim. O resultado foi uma derrota para o governo, uma vez que se concluiu que Marcela e Felipe Herrera de Noble não eram filhos de desaparecidos.
Nos últimos anos, Herrera de Noble já não ia mais à sede do jornal, mas seguia em contato diário com seus editores.
O presidente argentino, Mauricio Macri, lamentou a morte de Herrera de Noble nas redes sociais. Desde sua eleição, em 2015, o jornal vinha adotando uma linha editorial favorável ao novo mandatário. Macri, por sua vez, devolveu ao grupo o direito de transmissão do futebol na TV aberta, que o kirchnerismo havia estatizado.Além disso, o presidente concedeu ao Clarín o direito de atuar também no ramo da telefonia móvel. Com informações da Folhapress.