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Falta de dilatação, cordão umbilical enrolado no pescoço, cesárea anterior, bacia estreita, nenhum desses motivos é considerado, pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, como justificativas reais de cirurgia cesariana. De acordo com o Dr. James Cadidé, da Comissão de Parto da Febrasgo, só existem duas indicações absolutas: a desproporção céfalo-pélvica e a apresentação prévia da placenta.
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A desproporção ocorre quando a ossatura da bacia da mãe é incompatível com a da cabeça do bebê. Isso acontece em casos de mães que possuem alguma deformidade ou desalinho nos ossos, por conta de um acidente ou deficiência física. Ou em casos em que o bebê tem a cabeça maior que o normal, devido a problemas de saúde como hidrocefalia ou diabetes.
No caso da apresentação prévia da placenta, o parto normal não acontece devido à oclusão da passagem do bebê. Os dois casos são considerados de baixa incidência. Há ainda, segundo ele, indicações relativas, ou seja, dependem da avaliação do médico, como: sofrimento fetal quando a mulher não tem dilatação completa, descolamento prematuro de placenta, placenta prévia com sangramento intenso, distocia (complicações que atrapalham ou impedem a passagem do bebê), herpes vaginal ativa (por conta do risco de desenvolver cegueira no bebê), mãe portadora de HIV.
James Cadidé reforça também que há situações em que a mulher, por cansaço físico, posição ruim e situações de distocia em que não é possível usar o fórceps (instrumento cirúrgico semelhante a uma colher que é inserido no canal vaginal para ajudar a retirar o bebê) ou a vácuo-extração (ou ventosa – retira o bebê por sucção) a cesárea é recomendada.
Essas situações, de acordo com Cadidé, é que fazem com que a Organização Mundial de Saúde (OMS) tenha previsto um escore de cesarianas que é de, no máximo, 15% do total de partos realizados no país. No entanto, segundo a pesquisa Nascer no Brasil da Fundação Oswaldo Cruz, a cesariana é realizada em 52% dos nascimentos e no setor particular, chega a 88%.
“Se nós tivéssemos fazendo mais cesáreas e tívéssemos os melhores escores de mortalidade materna e os mais baixos níveis de mortalidade perinatal isso justificaria, mas não estamos.Estamos entre os piores”, critica o especialista. Na opinião dele, não é correto culpar apenas os obstetras pelos índices: “É um comodismo assistencial que não envolve apenas médicos obstetras, mas também o gerenciamento dos hospitais. É cômodo ter cesárias programadas para o fluxo de gerenciamento de um centro obstétrico porque se marca a cesárea na hora em que ela é cômoda para todos os atores envolvidos no processo”.
“Nós que lutamos pelo parto natural somos vistos quando chegamos no hospital como um transtorno. A gente é mal olhado desde a hora em que a gente chega no hospital até a hora que a gente sai porque a nossa paciente tem um horário de chegada mas não tem um horário de ir pra sala de parto ou de saída”, reclama.