© PM/Fotos Públicas
Beneficiado por uma delação premiada, um "recolhedor de propina do tráfico" foi o responsável pela prisão de dezenas de policiais militares nesta quinta-feira (29) no Rio de Janeiro. Até agora, 54 policiais militares foram presos. O acordo é o primeiro no Rio num inquérito envolvendo a prisão de policiais e traficantes.
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Segundo os investigadores, o "recolhedor do tráfico" foi preso em fevereiro do ano passado por acaso durante a reconstituição de um homicídio numa das principais vias de São Gonçalo, município da região metropolitana.
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Ele foi rendido dirigindo um carro ao sair de uma comunidade próxima do local da reconstituição. O homem foi preso com R$ 20 mil, três pistolas, drogas e um celular. De acordo com o seu depoimento, ele foi oferecer armas apreendidas pelos policiais do 7º Batalhão (o único da cidade) aos traficantes da comunidade.
Na delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, os investigadores se surpreenderam com a agenda do celular do preso, que tinha dezenas de telefones de policiais e traficantes da cidade.
A partir daí, promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). pactuaram um acordo de delação premiada. Com o acordo firmado, os policiais conseguiram rastrear a série de crimes da organização criminosa, que incluía aluguel de fuzis até a escolta dos criminosos nos deslocamento pela cidade. O esquema movimentava cerca de R$ 1 milhão por mês.
As escutas também flagraram policiais sequestrando traficantes. Caso o resgate não fosse pago, os policiais levavam os "reféns" presos para a delegacia. O resgate não ultrapassava R$ 5.000.
OUTRAS DELAÇÕES
Pelo acordo, que já foi homologado, o delator deverá ter a sua pena reduzida. Apesar da prisão do "recolhedor", o esquema de corrupção continuou operando. Na quarta (28), outros dois "recolhedores" foram presos. Eles também negociam delação premiada.
"Os recolhedores" eram homens de confiança dos policiais e faziam a ponte com os traficantes. Eles recebiam cerca de R$ 2.000 semanalmente de cada ponto de venda de droga extorquida. Os investigadores identificaram pelo menos 50 comunidades abastecendo o esquema. Cada comunidade tinha mais de um ponto de venda contribuindo ilegalmente com os militares.
O inquérito, que tem mais de 4.000 páginas, conta com mais de 800 páginas de diálogos entre policiais e traficantes. A investigação interceptou 200 mil ligações telefônicas até fevereiro deste ano.
CÚPULA DO BATALHÃO
De acordo com a investigação, o esquema envolvia apenas policiais que atuam ou eram lotados no 7º Batalhão, o único de São Gonçalo.
A Justiça pediu a prisão de 96 militares. O Batalhão conta com 800 homens. A apuração ainda não terminou. Investigadores acreditam que os militares presos nesta quinta poderão ajudar a identificar outros envolvidos no esquema de recebimento de propina.
Dos presos até agora, um sub-tenente tem a maior patente. Os investigadores acreditam que oficiais poderão ser identificados na nova fase da operação.