© Ueslei Marcelino/Reuters
O preconceito que fere um ou uma adolescente homossexual que vive em área urbana também atinge índios das mais diveras etnias. A homofobia não é, no entanto, um golpe novo para os índios, como comprova pesquisa de uma dupla de antropólogos brasileira. Publicado pela editora Springer, apenas em inglês, "Gay Indians in Brazil: Untold stories of the colonization of indigenous sexualities" ("Índios gays no Brasil: a história não contada sobre a colonização de sexualidades indígenas", em tradução livre), foi escrito por Estevão Rafael Fernandes e Barbara M. Arisi.
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A obra conta histórias como a dos índios Tikuna, da Amazônia, e os Bororo, do Mato Grosso, que declararam serem gays, em 1990. A reação despertada nas aldeias vizinhas era a rejeição. "Isso é coisa de branco!", disseram. Relata, ainda, realidades como a de J.P., Pankararu de 26 anos que relembra como foi difícil enfrentar a adolescência com a repressão da mãe, os namoros arranjados da avó e as piadas em língua indígena que vinham dos tios.
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Estudante de medicina na Universidade de Brasília (UnB), o índio ressaltou, como publicado pelo jornal O Globo, os próprios conflitos cotidianos: "Eu sou um gay indígena e percebo que não sou bem aceito nem no movimento indígena nem no movimento gay urbano".
De acordo com o estudo, o primeiro registro de um índio como vítima de homofobia é de 1613. Um Tupinambá foi condenado à morte, em São Luís, no Maranhão. Com apoio dos jesuítas, ele foi executado por um tiro de canhão .
"Vários indígenas assumiram o discurso de que gays são degenerados culturalmente. Hoje, boa parte das línguas indígenas tem um termo pra definir homossexualidade que é uma tradução do termo “viado”, com toda a carga de preconceito que ele carrega. Mas, historicamente, não havia relatos de preconceito com homossexuais entre indígenas. Nem havia um nome para isso. Nós os ensinamos a ter preconceito", atesta Estevão Fernandes, ao O Globo.