Sem banheiro, mais de 4 mi de brasileiros precisam defecar ao ar livre

De uma forma geral, 61% dos brasileiros no campo e na cidade não dispõem de saneamento básico seguro

© Ammar Abdullah/Reuters

Brasil pesquisa 13/07/17 POR Estadao Conteudo

Cerca de 3 milhões de brasileiros - ou 11% da população rural - ainda não contam com banheiros. Se somados ao mais de 1 milhão nas zonas urbanas na mesma situação, o País registra mais de 4 milhões de habitantes que precisam defecar ao ar livre. Os dados foram publicados nessa quarta-feira, 12, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, na sigla em inglês), que ainda destacam que, de uma forma geral, 61% dos brasileiros no campo e na cidade não dispõem de saneamento básico seguro.

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Os números fazem parte de um alerta mundial que as entidades lançam para a necessidade de que governos invistam em água e saneamento.

De cada dez pessoas no mundo, três ainda não têm acesso à água potável. Seis de cada dez tampouco contam com saneamento básico seguro. No total, são 4,5 bilhões de pessoas sem saneamento e 2,1 bilhões sem água.

"A água potável, o saneamento e a higiene em casas não podem ser privilégios exclusivos dos ricos ou daqueles que vivem em centros urbanos", declarou o novo diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus. "Todos os países devem ter a responsabilidade de garantir que todo o mundo possa aceder a esses serviços."

Avanços

Os dados revelam que os avanços entre 2000 e 2015 foram importantes. Mas, ainda assim, o trabalho está longe de ser concluído.

Hoje, apenas 64% dos brasileiros dispõem de esgoto conectado. Mas, em 2000, essa taxa era de apenas 42%. De acordo com a OMS, 39% dos brasileiros tinham acesso a saneamento seguro em 2015. Quinze anos antes, essa taxa era de 26%. O avanço, segundo os especialistas, não foi suficiente, e mais da metade da população do País ainda não tem seus direitos plenamente respeitados.

Quanto à população rural que ainda precisa fazer suas necessidades ao ar livre, a taxa caiu em 15 anos - mas apenas de 16% em 2000 para 11% em 2015. Nesse ritmo, esse problema apenas seria resolvido em 2045.

Maria Neira, responsável na OMS pelo Departamento de Saúde Pública, acredita que o Brasil tenha registrado "alguns avanços" nos últimos 15 anos. Porém, destaca que as disparidades entre as regiões mais pobres e mais ricas do País ainda é um problema.

Outra diferença que preocupa é entre a zona rural e a urbana. Mesmo dentro das cidades, a diferença entre a periferia e as áreas mais nobres dos municípios chama a atenção. "Temos de atacar as desigualdades", insistiu.

"Cada vez que temos epidemia, a falta de investimentos está relacionada", alertou Maria, fazendo uma referência aos problemas com zika, dengue e outras doenças.

Para ela, governos não podem cortar investimentos nesses setores, nem mesmo durante uma recessão ou em um momento de cortes de gastos do Estado. "Se um país coloca em dúvida a importância de investir em saneamento, seria uma decisão muito equivocada", afirmou.

Mundo

De acordo com a OMS, investir em saneamento é investir em saúde. Hoje, 361 mil crianças com menos de 5 anos ainda morrem de diarreia no mundo, em grande parte causada por falta de higiene. Cólera, hepatite A e outras doenças também estão relacionadas com essa falta de investimentos.

Das 4,5 bilhões de pessoas sem saneamento seguro, 600 milhões são obrigadas a compartilhar latrinas com outras residências - 892 fazem suas necessidades ao ar livre.

Dos 2,1 bilhões de habitantes sem acesso à água potável, mais de 263 milhões deles precisam viajar mais de 30 minutos para poder recolher água de fontes seguras; 159 milhões, ainda assim, bebem diariamente água não tratada.

Em 90 países avaliados, o progresso ainda é lento e a OMS considera que, se o atual ritmo for mantido, esses governos não atingirão uma cobertura universal de água até 2030, como era o plano da ONU.

No Brasil, porém, o acesso à água foi considerado como um dos grandes avanços dos últimos 15 anos. A taxa da população com acesso à água potável passou de 84% em 2000 para 97% em 2015.

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