© REUTERS/Ricardo Moraes
Às 16h08 do último dia 30 de março, Rosilene Alves, de 53 anos, atendeu a um telefonema que ninguém gostaria de receber e que nunca mais vai sair de sua memória. Uma amiga de sua filha disse que Maria Eduarda, de 13 anos, tinha sido morta dentro da Escola Municipal Jornalista e Escritor Daniel Piza, em Acari, na zona norte do Rio.
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A garota levou três tiros, dois na cabeça e um nas nádegas. Ela estava na quadra, fazendo aula de Educação Física. Os projéteis a perfuraram seis vezes. A auxiliar de serviços gerais narra exatamente as primeiras imagens de como viu o cenário da morte da filha, como se tivesse ocorrido minutos antes.
"Estava falando dela para as pessoas no meu serviço, como ela era linda, calçava 40 e jogava basquete, quando recebi a ligação. Peguei uma van, falei para o motorista que minha filha havia sido morta e ele foi cortando o caminho. Quando cheguei lá, meu filho abriu o portão para mim e a quadra estava cheia, parecia o Maracanã. As pessoas foram abrindo caminho para mim. Tirei aquele pano, parecia que ela estava dormindo, só tinha aquele sangue ao redor porque foram dois tiros na cabecinha. Eu beijava tanto e falava: Não faz isso comigo Maria, não vai embora", emociona-se a mãe, ao contar a história.
A escola onde Maria Eduarda estudava e foi morta fica no Morro da Pedreira, dominado por um dos bandos mais violentos do Rio. No momento da ação que vitimou a adolescente, dois policiais perseguiam criminosos nos arredores do colégio.
Exames comprovaram que os tiros que atingiram Maria Eduarda vieram da arma do cabo Fábio Barros Dias, que está solto. Ele e o sargento David Centeno foram filmados atirando à queima-roupa em dois suspeitos de roubos na região, em frente à escola. Os dois estavam deitados no chão, aparentemente feridos e imóveis, e morreram ali, na calçada ao lado do colégio.
"Eu só queria que os policiais não entrassem mais nas comunidades atirando. Eles não fazem isso em Copacabana, no Leblon, na zona sul", afirma Rosilene. "Ela estava no lugar certo, na hora certa, na escola, que é o lugar onde criança deve estar. Não está sendo fácil, mas eu não vou parar. Eu vivia para a Maria, trabalhava para a Maria. Se eu me entregar, deitar, eu morro de depressão", diz a mãe.
Sem respostas
O pai de Maria, o pedreiro Antônio Alfredo da Conceição, de 62 anos, também pede justiça. "Sentei com o Seu Pezão (Luiz Fernando, governador do Rio) e falei: 'só quero te fazer uma pergunta, governador. O que você faria se estivesse no meu lugar?'", lembra.
"Ele, infelizmente, não tinha resposta. Ainda não teve justiça, o policial ainda não foi preso. Quantas Marias eles ainda vão precisar matar? Os delinquentes estão matando as crianças, e os policiais também. Eu tenho 62 anos. Queria que Deus tivesse me levado, mas infelizmente, ela foi e eu fiquei", lamenta o pai.
O cabo Dias foi indiciado por homicídio pela morte da adolescente, de acordo com o relatório feito pela Delegacia de Homicídios (DH) do Rio. Para a DH, ele agiu com dolo eventual ao atirar contra os suspeitos, assumindo o risco de matar algum inocente, já que sabia da existência de uma escola perto do local do tiroteio e do risco de atingir estudantes.
Por esse crime, os dois policiais já foram denunciados pelo crime de homicídio doloso (intencional). Embora tenham sido presos logo após o episódio, eles foram autorizados pela Justiça a responder ao processo em liberdade.