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Uma pesquisa da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) indica que, um ano após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), a foz do Rio Doce continuava impactada pela lama despejada no maior desastre ambiental do país.
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Segundo o professor Alex Bastos, geólogo e coordenador da pesquisa, as características do ambiente marinho mudaram e há um risco potencial. "Se vai continuar assim por mais tempo, a gente não consegue dizer. Mas é um sinal de alerta de que, um ano depois, não está limpo. O impacto continua e pode ser que fique assim pra sempre", diz.
O rompimento da barragem, em 5 de novembro de 2015, provocou um tsunami de lama que chegou ao mar do Espírito Santo 16 dias depois. Vilas inteiras ficaram destruídas, e 19 pessoas morreram. A estrutura era operada pela Samarco, empresa de mineração da Vale e da BHP Billiton.
A pesquisa da Ufes envolveu mais de 30 pessoas e consolida o resultado da análise de materiais coletados em nove expedições na foz do rio, feitas entre novembro de 2015 e dezembro de 2016.
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Bastos considera dois resultados especialmente relevantes. Primeiramente, os níveis de metais, como ferro, alumínio, chumbo e manganês, estão até quatro vezes mais altos do que antes da tragédia. E, no período chuvoso, continuam a bater recordes.
"Em novembro e dezembro de 2016, vimos novamente os níveis de metais subindo nos mesmos valores que a gente tinha quando a lama chegou. Quando parecia que estava tudo estabilizado, a gente mostra que o material, na verdade, está depositado e, com uma cheia, ele pode ser redisponibilizado", afirma o pesquisador.
"Só o fato de ter aumentado teor de metais no sedimento já é um risco potencial, porque não era para eles estarem ali se não tivesse acontecido o desastre. O metal pode ficar disponível em sua forma iônica, o que é perigoso porque intoxica os peixes. Ou pode ter uma forma que vai alterar o meio ambiente, mas sem criar dano para a vida humana. Isso não está consolidado."
UM ANO DE LAMA
Outra conclusão é que houve um aumento de fitoplânctons, embora a variedade de espécies tenha caído. Possivelmente, a mudança se deu devido ao aumento dos níveis de ferro, um nutriente desses microrganismos.
Porém, o impacto na cadeia alimentar, para peixes e seres humanos, não está definido. Bastos afirma que é necessário continuar as medições e desenvolver pesquisas na área da saúde. "A população local está insegura: não sabe se pode tomar banho, se pode pegar água do rio, se pode comer o peixe dali. Esses estudos dão uma base para que haja uma tomada de decisão, mas também é necessário que haja um acompanhamento da parte da saúde humana", diz Bastos.
A pesquisa foi entregue ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) na última sexta-feira (14).
O estudo será analisado pelos órgãos que compõem o comitê interfederativo (CIF) criado na época do desastre: Ibama, Agência Nacional de Águas, e governos de Minas e Espírito Santo. Com informações da Folhapress.