© Walter Craveiro-Flip
O escritor paulista Julián Fuks analisou a importância da autoficção como forma de reinventar a literatura, na tarde desta quinta-feira (27), na mesa em que participou na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Ao lado dele, estava Jacques Fux, também convidado para discutir o tema.
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Para Julián, nas letras contemporâneas, há um uso mais extremo da experiência pessoal nas obras.
"O romance, como gênero, sempre foi visitado por outros discursos. Agora, ele tem sido cada vez mais permeado pela historiografia e, no caso da autoficção, pela biografia. Não me parece um fenômeno irrelevante", disse o autor de "A Resistência".
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O escritor prefere usar o termo "pós-ficção" em vez de "autoficção". O segundo termo colocaria, de acordo com ele, a questão centrada demais na figura do autor.
O primeiro, porém, mostraria "uma crise na possibilidade de invenção".Julián também criticou a visão que o gênero seria uma forma narcisista de relação com o literário.
"Muitas vezes é uma aproximação com o outro, a tentativa de contar uma história coletiva por meio de uma história pessoal", disse.
O autor também refletiu sobre as pessoas que a autoficção costuma ofender, mas falou não buscar, em sua obra, ser arbitrariamente franco.
"Não é contar tudo [da intimidade] pelo simples fato de contar tudo, mas, ao dizer algo com palavras, esse algo pode se transformar", afirmou.Jacques acrescentou não ver a ficção como o contrário da verdade -mas apenas uma outra expressão dela.
SEM ENTROSAMENTO
Faltou, porém, entrosamento no encontro entre os dois -e a mediação de Ana Weiss também não fez perguntas que provocassem o intelecto da dupla ou estabelecessem um diálogo entre suas obras.
A sensação, na maior parte do tempo, era que os autores falavam apenas com a plateia e não entre si. Assim, as reflexões de Julián, alinhadas às discussões comuns na Flip, por vezes ficavam sem resposta.
O autor propôs reflexões sobre literatura, enquanto Jacques contou histórias de seus livros, contando uma série de piadas -que às vezes faziam a plateia rir, às vezes não.
"No meu segundo livro, eu fiz uma referência ao Julián!", disse Jacques, antes de dizer que a obra se chama "Brochadas".
Ele brincou ainda com o nome da mesa, Fuks & Fux -em referência ao verbo inglês "to fuck", forma de baixo calão para o sexo-, ironizando o fato de estarem falando dentro de uma igreja. (Folhapress)