© Walter Craveiro / Divulgação
Jornalista, tradutora, ativista, anarquista, humanista. Multifacetada.
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Pilar del Río, 67, companheira de vida do Nobel português, José Saramago, foi apresentada pelo mediador Alexandre Vidal Porto nesta sexta-feira, na Flip, como "uma instituição".
Foi logo dizendo que instituições não respondem perguntas e que, portanto, ela era apenas Pilar. E falaria em espanhol, sua língua-mãe, porque "os idiomas têm de ser respeitados".
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Ela subiu ao palco da Igreja Matriz sem a companhia prevista da arqueóloga Niéde Guidon, que não pôde vir a Paraty (RJ) por questões de saúde.
Lépida, falou sobre crescer num mundo ditado pelos homens. "A ditadura espanhola era feita por homens. A Igreja, também. A única mulher importante era virgem e mãe", disse, referindo-se à Virgem Maria, sentada no altar da igreja que abrigou parte da festa literária deste ano. "E eu logo comecei a questionar porque, para ser valorizada, a mulher precisava ser mãe, e ter concebido sem ter desfrutado de seu corpo."
Responsável pela Fundação José Saramago, ela defendeu o uso do termo presidenta para descrever seu cargo e o de todas as mulheres nessa posição. "Não usávamos esse termo porque não havia mulheres presidentas. A presidente é uma incorreção, é uma falta. Se eu fosse professora e alguém falasse presidente a uma mulher, seria reprovado."
Pilar destacou, entre os trabalhos da fundação de seu companheiro, a promoção da "Declaração Universal dos Deveres Humanos", concebida por Saramago e apresentada no ato de aceitação do Nobel, ocasião em que era celebrado o aniversário de 50 anos da "Declaração Universal dos Direitos Humanos".
"Nestes 50 anos, não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que, moralmente, quando não por força da lei, estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se no mundo, as desigualdades agravam-se, a ignorância cresce, a miséria alastra", disse o escritor português no trecho lido durante a mesa.
"Somos nós os protagonistas de nosso tempo e não serão os representantes em quem votamos que abrirão caminhos para nós -mas eles certamente podem fechá-los", comentou Pilar. "Portanto temos o dever de nos instruirmos, de sermos conscientes, de não sermos manipuláveis, de sermos cidadãos com alto conteúdo cívico que não nos adormeçam com contos."
Segundo a jornalista, ser um cidadão ativo dá trabalho e que a passividade nos mata e mata as sociedades. "E temos de ser cidadãos e não consumidores. Como consumidores somos facilmente prescindíveis: no dia em que não podemos mais consumir, nos tornamos descartáveis. E não queremos ser descartáveis."