Irmã de mulher morta a marteladas lamenta: 'Sociedade falhou'

Crime cometido contra a jovem Mayara Amaral é investigado como latrocínio; família diz que se trata de feminicídio

© Arquivo Pessoal

Brasil campo grande 29/07/17 POR Notícias Ao Minuto

A irmã da professora de música Mayara Amaral, morta na última quarta-feira (26) em Campo Grande, escreveu um texto para denunciar o tratamento que as autoridades e que a mídia vêm dando ao crime. As informações são do site Metrópoles.

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A musicista de 27 anos foi assassinada a marteladas em um motel após ser estuprada por dois homens. Os criminosos queimaram o corpo da mulher e o abandoram em uma rodovia.

De acordo com investigações da Polícia Civil,Mayara foi ao motel com um conhecido, Luís Alberto Bastos Barbosa, 29 anos. Os dois trabalhavam juntos. Naquela noite, outro homem se juntou ao casal, Ronaldo da Silva Onedo, 30 anos, e, ainda segundo a corporação, teria feito sexo consentido com a jovem.

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Luís Alberto e Ronaldo decidiram roubar e matar a vítima com golpes de martelo, ainda no motel. Os dois o corpo da musicista até a casa de Anderson Sanches Pereira, 31 anos. Lá, o trio repartiu pertences da vítima. O corpo foi carbonizado e deixado em uma rodovia. Os investigadores encontraram apenas uma das mãos intactas para realizar exame de DNA.

Até o momento, a polícia investiga o caso como latrocínio. Para Pauliane Amaral, irmã da vítima, o crime foi premeditado. Ela conta, ainda, que Mayara estava “cegamente apaixonada” por Luís Alberto. Pauliane questiona ainda sobre o sexo sem resistência da vítima. “Para que o martelo, então, se era consentido?”, pergunta a jovem no post do Facebook.

Ela foi estuprada por dois desumanos. O terceiro comparsa – não menos monstruoso – ajudou a levar o corpo da minha irmã para um lugar ermo, e lá atearam fogo nela, como se a brutalidade das marteladas no crânio já não fosse crueldade demais. Minha irmã foi encontrada com o corpo ainda em chamas, apenas de calcinha e uma de suas mãos foi a única parte de seu corpo que sobrou para que meu pai fizesse o reconhecimento no IML. ‘Parece que ela fazia uma nota com os dedos’, disse meu pai pelo telefone”, conta a irmã.

Os três suspeitos foram presos, mas a investigação sobre o caso continua. Apenas Luís Alberto Barbosa confessou o crime. O trio foi indiciado por latrocínio, crime cuja pena chega a 30 anos, e ocultação de cadáver, que prevê até 3 anos de prisão.

Leia abaixo o texto de Pauliane

Quem é Mayara Amaral?

Minha irmã caçula, mulher, violonista com mestrado pela UFG e um dissertação incrível sobre mulheres compositoras para violão. Desde ontem Mayara Amaral também é vítima de uma violência que parece cada vez mais banal na nossa sociedade. Crime de ódio contra as mulheres, contra um gênero considerado frágil e, para alguns, inferior e digno de ter sua vida tirada apenas por ser jovem, talentosa, bonita… por ser mulher.

Mais uma vez a sociedade falhou e uma mulher, uma jovem professora de música de 27 anos, foi outra vítima da barbárie de homens que não podem nem serem considerados humanos. Foram três, três homens contra uma jovem mulher.

Um deles, Luis Alberto Bastos Barbosa, 29 anos, por quem ela estava cegamente apaixonada, atraiu-a para um motel, levando consigo um martelo na mochila. Lá, ele encontrou um de seus comparsas.

Em uma das matérias que noticiaram, o crime os suspeitos dizem que mantiveram relações sexuais com minha irmã com o consentimento dela. Para que o martelo então, se era consentido?

Estranhamente, nenhuma das matérias aparece a palavra ESTUPRO, apesar de todas as evidências.

Às vezes tenho a sensação de que setores da imprensa estão tomando como verdade a palavra desses assassinos. O tratamento que dão ao caso me indigna profundamente.

Quando escrevem que Mayara era a “mulher achada carbonizada” que foi ensaiar com a banda, ela está em uma foto como uma menina. Quando a suspeita envolvia “namorado” hiper-sexualizam a imagem dela. Quando a notícia fala que a cena do crime é um motel, minha irmã aparece vulnerável, molhada na praia.

Quando falam da inspiração de Mayara, associam-na com a história do pai e avô e a foto muda: é ela com o violão, porém com sua face cortada. Esse tipo de tratamento não representa quem minha irmã foi. Isso é desumanização. Por favor, tenham cuidado, colegas jornalistas.

Para nossa tristeza, grande parte das notícias dão bastante voz aos assassinos e fazem coro à falsa ideia de que os acusados só queriam roubar um carro. Um carro que foi vendido por mil reais. Mil reais. Um Gol quadrado, ano 1992. Se eles quisessem só roubá-la, não precisariam atraí-la para um motel.

Um dos assassinos, Luís, de família rica, vai tentar se livrar de uma condenação alegando privação momentânea dos sentidos por conta de uso de drogas. Não bastando matar a minha irmã, da forma que fizeram, agora querem destruir sua reputação. Eis a versão do monstro: minha irmã consentiu em ser violada por eles, elas decidiram roubá-la, ela reagiu fisicamente e eles, sob o efeito de drogas, golpearam-na com o martelo – e ela morreu por acidente. Pela memória da minha irmã, e pela de outras mulheres que passaram por esta mesma violência, não propaguem essa mentira! Confio que a Polícia e o Ministério Público não aceitarão esta narrativa covarde, e peço a solidariedade e vigilância de todos para que a justiça seja feita.

Na delegacia disseram à minha mãe que uma outra jovem já havia registrado uma denúncia contra Luís por tentativa de abuso sexual… Investiguem! Se essa informação proceder, este é mais um crime pelo qual ele deve responder. E uma prova de como a justiça tem tratado as queixas feitas por nós, mulheres. Se naquela ocasião ele tivesse sido punido exemplarmente, talvez minha irmã não tivesse sofrido este destino.

Foi tudo premeditado: ela foi estuprada por dois desumanos.

O terceiro comparsa – não menos monstruoso – ajudou a levar o corpo da minha irmã para um lugar ermo, e lá atearam fogo nela, como se a brutalidade das marteladas no crânio já não fosse crueldade demais. Minha irmã foi encontrada com o corpo ainda em chamas, apenas de calcinha e uma de suas mãos foi a única parte de seu corpo que sobrou para que meu pai fizesse o reconhecimento no IML. “Parece que ela fazia uma nota com os dedos”, disse meu pai pelo telefone.

A confirmação veio logo depois, com o resultado do exame de DNA. Era ela mesmo e eu gritei um choro sufocado.

Eu vou dedicar o meu luto à memória da minha irmã, e a não permitir que ela seja vilipendiada pela versão imunda de seus algozes. Como tantas outras vítimas de violência, a Mayara merece JUSTIÇA – não que isso vá diminuir nossa dor, mas porque só isso pode ajudar a curar uma sociedade doente, e a proteger outras mulheres do mesmo destino.

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