Estudo relata repressão a índios gays no Brasil

Segundo Fernandes, desde o século 16 há registros de práticas homossexuais entre diversas etnias

© Ueslei Marcelino/Reuters

Brasil Pesquisa 30/07/17 POR Ana Luiza Albuquerque, da Folhapress

O processo de colonização brasileira envolveu o controle da sexualidade indígena. A tentativa de coibir relações homossexuais nas aldeias, vistas pela Coroa portuguesa como "um espaço amplo para a ação do demônio", foi pretexto para a violência que reforça até hoje a exclusão de índios gays.

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Pesquisa feita pelos antropólogos Estevão Fernandes e Barbara Arisi -publicada neste ano pela editora científica europeia Springer- levou a discussão sobre gênero e sexualidade para a perspectiva dos índios gays no Brasil.

+ Índios tinham relações gays antes da colonização

Segundo Fernandes, desde o século 16 há registros de práticas homossexuais entre diversas etnias. "Os relatos não eram do próprio indígena, mas do não indígena tentando salvá-lo. O papel fundamental da colonização é salvar o colonizado de ser quem é."

O pesquisador afirma que os índios eram considerados sodomitas, o que serviu como justificativa para as ações dos jesuítas, que teriam utilizado violência física com "requintes de crueldade".

Ainda que os próprios portugueses também fossem vítimas da Inquisição, o antropólogo defende que os índios sofriam antes por serem indígenas e depois por serem gays. "O português tinha direito à defesa, sabia se comunicar na própria língua. O indígena não. Era uma perseguição mais ostensiva pelo tipo de controle que se exercia sobre a vida cotidiana."

Arisi concorda que havia um preconceito "somado". "Eles vão ser atacados por serem considerados sodomitas, mas isso se soma ao lugar da subalternidade por serem índios."

ATUAL

Para os pesquisadores, a consequência disso foi um vácuo de pertencimento que perdura. "O indígena e LGBT não tem espaço em nenhum dos dois grupos. Qual o lugar reservado para o homossexual historicamente? Nenhum. Agora, imagina o indígena", diz Fernandes.

"O colonialismo não acabou e, em larga medida, o discurso homofóbico e racista permanece. A cura gay não é coisa de cinco séculos atrás, é coisa de hoje. A retórica é a mesma", diz.

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