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Com 53 mil habitantes cegos, a cidade de São Paulo tem apenas oito semáforos sonoros - voltados para pessoas com deficiência visual -, sendo a metade na região do Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo. Entre os que estão nas ruas da capital, nenhum equipamento funciona na totalidade da travessia. Em um deles, na zona sul da cidade, o botão sequer existe mais.
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Em meio ao apagão de semáforos na cidade - motivado, entre outras razões, por roubo de fios, segundo a Prefeitura - foi danificado até o equipamento sonoro diante da ONG Laramara, instituição voltada para cegos na Barra Funda, na zona oeste. Segundo a entidade, as botoeiras existem desde 1996 na Rua Conselheiro Brotero mas, há quase dois meses, pararam de emitir a sirene, sinalização sonora que autoriza a travessia do pedestre.
O deficiente visual Leonardo Gleyson Ferreira, de 29 anos, é analista de sistemas na ONG e explica como atravessa a via onde trabalha, assim como as outras ruas de São Paulo, sem os semáforos sonoros. "Primeiro, dou um tempo para ver se alguém se prontifica. Depois, se eu estiver percebendo que tem alguém próximo, peço ajuda. Não tendo ninguém por perto, aí corro o risco mesmo e atravesso com base nos próprios sentidos", diz.
Segundo ele, também não há sinalização tátil nas calçadas que indique a presença do semáforo sonoro. Como, então, se sabe onde estão os equipamentos acessíveis? "As pessoas usam porque isso é falado na comunidade. Elas sabem onde têm porque, entre nós, avisamos."
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Pernambucano, Ferreira nasceu cego e veio a São Paulo com o pai em busca de tratamento. Após ser submetido a um transplante de córnea, enxergou com o olho direito dos 4 aos 15 anos, mas voltou a perder a visão em 2002. Diariamente, sai de trem de Franco da Rocha, na região metropolitana, para trabalhar na capital. "Será que São Paulo é mesmo uma cidade democrática, que permite acesso a todos? Hoje estamos excluídos do mobiliário urbano", queixa-se.
Os semáforos sonoros também estão em outros pontos da capital e não funcionam plenamente. Na Rua Vergueiro, por exemplo, em frente ao Centro Cultural São Paulo - onde há um acervo em Braille -, o equipamento opera parcialmente.
Ao pressionar por três segundos, uma voz avisa: "Aguarde o bipe sonoro para iniciar a travessia". Caso seja necessário esperar mais alguns segundos, o semáforo volta a informar: "Aguarde mais um momento" ou "Respeite a sinalização". O sinal sonoro que autoriza a travessia, porém, não é emitido - o que impede uma pessoa com deficiência visual de atravessar.
O especialista em orientação e mobilidade João Álvaro de Moraes Felippe diz que o equipamento também é importante para pessoas com baixa visão e idosos. "Se junto ao sinal visual houver o sinal sonoro, isso contribui para a segurança de todos. Se alguém que enxerga for atravessar e estiver distraído, no celular ou olhando em outra direção, a orientação sonora só beneficia", defende.
Planos - Em 2013, a Prefeitura anunciou o Plano São Paulo Mais Inclusiva, com intenção de instalar 125 semáforos sonoros para pessoas com deficiência. O plano não saiu do papel. Hoje, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) considera que há apenas sete e exclui da conta equipamento na Rua Pensilvânia, no Brooklin, zona sul, mas não diz por quê.
A cidade chegou a ter mais semáforos sonoros, que foram retirados. Na gestão passada, explica a empresa, a CET desenvolveu testes em caráter experimental com faróis sonoros em alguns locais. "Como no período de testes os equipamentos apresentaram problemas e não garantiam a segurança dos usuários, a companhia decidiu retirá-los", informou. A CET disse ainda que faz levantamento sobre o funcionamento de semáforos do tipo e trabalha para ampliar a quantidade de botoeiras sonoras. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.