Conflito na cracolândia tem bomba contra centro da prefeitura

Confusão envolveu usuários de drogas e a tropa de choque da Polícia Militar

© REUTERS / Paulo Whitaker

Brasil corre-corre 14/08/17 POR Folhapress

Um conflito entre usuários de drogas e policiais militares na tarde desta segunda-feira (14) na cracolândia, no centro de São Paulo, teve até o lançamento de bombas da PM contra um centro de acolhida aos dependentes químicos. Segundo uma assistente social da prefeitura, orientada a não se identificar, o confronto teve início após a tropa de choque da Polícia Militar agir com agressividade.

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"Como eles chegam com violência, o pessoal reage", disse. Segundo usuários, porém, não houve embate, e o uso de força da PM foi desmedido -como, de acordo com os dependentes químicos, é costume.Questionada, a Secretaria da Segurança Pública afirmou, em nota, que os policiais militares faziam patrulhamento e se depararam com um "princípio de tumulto, quando foram arremessadas pedras e outros objetos contra os agentes", o que motivou o uso das bombas para dispersar a confusão. A pasta não negou ter atirado contra o centro de acolhida, nem informou o motivo para tal. Ainda segundo a secretaria, não houve registro de feridos ou detidos.

"A GCM [Guarda Civil Metropolitana] estava 'empurrando' a gente com os escudos, como sempre faz, na 'moralzinha' e o choque já chegou atacando todo mundo. Ninguém reagiu, foi só correria", diz Antônio (nome fictício). Os nomes reais de usuários nesta reportagem foram preservados a pedido.

Antônio estava com mais dois usuários, Jorge e Manoel, e um casal dentro da tenda do Caps (Centro de Atenção Psicossocial, da prefeitura), na rua Helvétia, esperando pela ambulância que os levaria para a internação voluntária em Pirituba (zona oeste). "Você está aqui [no Caps] pra sair dessa vida e vem a PM pra te ferrar mais", diz Jorge. "Estamos esperando desde de manhã a ambulância para levar pra clínica, agora vai demorar mais."

Os três homens afirmam que foram diversas as bombas atiradas para dentro da tenda, e que depois as cápsulas foram todas recolhidas. Fotos tiradas por presentes após a ação, no entanto, mostram as cápsulas. "Na hora que a bomba estourou aqui dentro ninguém conseguia respirar, saiu todo mundo correndo lá para trás, eu até caí", diz Manoel.

De acordo com os usuários, a intimidação policial é diária. "Eles fizeram os ativistas apagarem as fotos e os vídeos que fizeram, ameaçam a gente", conta Jorge.A Guarda Civil Metropolitana, da gestão João Doria (PSDB), acompanha diariamente os agentes da prefeitura que realizam a limpeza na região. Desde a megaoperação policial de 21 de maio que fez a cracolândia migrar da alameda Dino Bueno para a praça Princesa Isabel e, posteriormente, para a alameda Cleveland, a prefeitura remove o lixo do local e periodicamente desmonta as barracas em que ocorre o comércio de entorpecentes.

INTERNAÇÃO

Eduardo Mouzinho, 41, realiza trabalho voluntário com os dependentes químicos no Caps. Usuário de cocaína por 20 anos, ele viveu na cracolândia durante seis meses. Saiu de casa, em Santos, há oito, e diz estar sem usar drogas há dois, mesmo frequentando a região todos os dias. "Eu mentia muito, roubava. Tenho muita vergonha do que fiz, mas não posso voltar atrás. Mas cansei de perder para a droga. Quando você está limpo você vê que ela só te tira o amor próprio."

Os três homens que aguardavam a internação concordam que o período previsto, 30 dias, é muito pouco. "Já fiquei 66 dias uma vez em Curitiba. Em uma semana fora, recaí", diz Antônio.

"O tratamento tem que ser de nove meses no mínimo. 30 dias é só para desintoxicar, é enxugar gelo. É pra ter na mídia, falar que consegue colocar tantas pessoas numa clínica", afirma Jorge.

Eles elogiam, no entanto, as novas estruturas de atendimento na região, como o Caps e o centro de atendimento emergencial montado com contêineres no estacionamento da guarda civil. "Esse negócio foi bom. Ali na frente da guarda também", diz Manoel.

Ele conta que, só entre a última quinta-feira (10) e sexta (11), gastou R$ 300 em crack. Seu colega Antônio diz ter gasto R$ 500 entre sexta e domingo (13). "O que vale é a primeira pancada. O resto é só para saciar o vício, o corpo pede", afirma Manoel.

Os três usuários defendem a internação compulsória, contra a vontade do usuário. "Quando você está ali no meio não vai querer sair mesmo. Tem que ser na força", diz Antônio. Ele sugere que a reabilitação se dê, no entanto, em colônias agrícolas.

COMÉRCIO ILEGAL

Em nota, a prefeitura afirmou que "continua empenhada em impedir que o tráfico volte a estabelecer um 'shopping center' de drogas" na região. A gestão diz que além das duas limpezas diárias, fez desde o dia 21 de maio, 142.289 abordagens e atendimentos, com 1.377 encaminhamentos para internações voluntárias.Após a confusão, na noite desta segunda, a concentração de usuários segue como de costume, inclusive com as barracas que encobrem o tráfico de drogas. Com informações da Folhapress. 

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