Ex-deputado Cândido Vaccarezza é preso em nova fase da Lava Jato

Duas novas etapas da força-tarefa apuram denúncias de corrupção, desvio de verbas públicas e lavagem de dinheiro na Petrobras

© Agência Brasil

Política Cerco policial 18/08/17 POR Folhapress

Mais de dois anos depois de ser delatado pela primeira vez, o ex-líder do PT na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza, foi detido pela Operação Lava Jato na manhã desta sexta (18).

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A PF deflagrou duas fases ao mesmo tempo: a 43ª, chamada de "Sem Fronteiras", e a 44ª, batizada de "Abate". Vaccarezza está envolvido nesta última.

Segundo a força-tarefa, o ex-deputado recebeu pelo menos US$ 478 mil (R$ 1,51 milhão no câmbio atual) em espécie por contratos da Petrobras com a Sargeant Marine, uma empresa norte-americana que produzia asfalto à estatal.

Segundo as investigações, Vaccarezza tinha influência em negócios da Petrobras ligados à Diretoria de Abastecimento, que era de influência do PP, e "apadrinhou" 12 contratos de fornecimento de asfalto, num total de US$ 180 milhões.

O esquema foi descrito pela primeira vez por Paulo Roberto Costa ainda no final de 2014, mas as citações a Vaccarezza -que ainda era parlamentar à época- foram consideradas superficiais.

"A dificuldade de se comprovar essa solicitação de propina, que teria sido em espécie, fez a investigação seguir por quase dois anos", explica o delegado Felipe Pace, da Polícia Federal.Também foram presos o empresário Henry Hoyer de Carvalho, apontado como operador do PP, e o ex-gerente da Petrobras Márcio Aché.

Outros dois alvos - Luiz Eduardo Loureiro de Andrade, ex-representante da Sargeant Marine no Brasil, e Dalmo Monteiro Silva, ex-gerente da Petrobras - estão no exterior, e um terceiro, o ex-gerente da Petrobras Carlos Roberto Martins Barbosa, teve a ordem de prisão revogada quando se soube que está hospitalizado desde o último sábado.

Os presos serão transferidos para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

DELAÇÕES

Segundo o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, Carvalho teria substituído Alberto Youssef na interlocução com a sigla em 2012. Ele chegou a ser alvo de condução coercitiva da 13ª fase da operação, em 2015, e foi preso porque os policiais descobriram que ele tinha armas e munição de uso restrito sem autorização legal. Alguns dias depois, foi solto.

As investigações apontam que Vaccarezza era procurado por funcionários de baixo escalão da Petrobras "para que os cargos fossem ocupados com pessoas dispostas a defender o então Governo e o Partido dos Trabalhadores e para que fossem afastadas pessoas a eles não simpatizantes", segundo escreveu o juiz Sérgio Moro ao autorizar a prisão do petista.

"Isso mostra que ao menos esses funcionários também tinham conhecimento do loteamento politico [na Petrobras]", avalia o delegado Filipe Pace.É a primeira vez na história da operação que a PF realiza duas fases ao mesmo tempo. No total, são 46 ordens judiciais em cumprimento - 29 de busca e apreensão, 11 de condução coercitiva e seis de prisão temporária.

A operação desta sexta partiu de depoimento de Paulo Roberto Costa, a primeira feita contra Vaccarezza, mas o ex-deputado já foi citado por mais delatores.

O empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, afirma que doou R$ 200 mil à campanha do Petista em 2010 e R$ 150 mil em 2014, pela via oficial, porque "ficava implícito" que ele deveria colaborar para ter acesso a Vaccarezza.

Segundo a delação, Pessoa pediu ajuda ao ex-parlamentar para resolver entraves da UTC junto ao TCU e Vaccarezza "prometeu ajudar", mas o empreiteiro disse não saber se isso se concretizou.Outro delator, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, diz que Vaccarezza foi um dos deputados que participou de uma reunião, em 2010, que definiu um "acerto geral" de propinas entre PT e PMDB na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras.

Já o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, diz que encaminhou R$ 500 mil de propina da empreiteira Camargo Corrêa à campanha de Vaccarezza em 2010.

OPERAÇÕES

A 43ª fase se chama Operação Sem Fronteiras e investiga o pagamento de propina a executivos da petroleira por um grupo de armadores gregos, com troca de informações privilegiadas para o fretamento de navios.

As investigações apontam que Costa acertou com o cônsul honorário da Grécia no Brasil, Konstantinos Kotronakis, um esquema para facilitar a contratação de navios daquele país.

Os acordos eram intermediados por Hoyer de Carvalho e, depois, por uma empresa de brokeragem, na Inglaterra, de Georgios Kotronakis, filho de Konstantinos.

Segundo o MPF (Ministério Público Federal), o grupo movimentou, de 2009 a 2013, contratos de mais de US$ 500 milhões - ao menos 2% desse valor (R$ 10 milhões) em propinas depositadas em offshores controladas pelos Kotronakis, por Carvalho e por Costa.

A 44ª fase, por sua vez, foi batizada de Abate e apura desvios na contratação de fornecimento de asfalto pela empresa estrangeira Sargeant Marine à estatal, mediante o pagamento de propinas a funcionários públicos e agentes políticos.

Os procuradores dizem ter provas do pagamento de propinas no exterior e de que Vaccarezza utilizou de sua influêcia no Congresso para orientar a contratação da Sargeant Marine pela Petrobras, de 2010 a 2013, por US$ 180 milhões.

Vaccarezza foi líder na Câmara dos governos do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma. O ex-deputado anunciou seu desligamento do PT em 2016.Ainda no partido, ele tentou, em 2014, se reeleger para a Câmara dos Deputados, sem sucesso.

Na divisão de supostas propinas, de acordo com o MPF, há documentos que indicam transferências para a "casa" (funcionários da Petrobras) e para para o PT.

Os valores então devidos ao partido, totalizando propinas de pelo menos cerca de US$ 500 mil, foram destinados em grande parte a Vaccareza, sendo possível que a investigação venha a revelar outros destinatários das vantagens ilícitas. A Justiça Federal determinou a prisão temporária do ex-deputado.

OUTRO LADO

Em nota, o advogado de Vaccarezza, Marcellus Ferreira Pinto, negou que o ex-deputado tenha intermediado negociações entre empresas privadas e a Petrobras.

A defesa afirma que a prisão foi decretada "com base em delações contraditórias, algumas já retificadas pelos próprios delatores".

"A busca e apreensão excedeu os limites da decisão judicial, confiscando valores declarados no imposto de renda e objetos pertencentes a terceiros sem vínculo com a investigação. A defesa se manifestará nos autos e espera que a prisão seja revogada e as demais ilegalidades corrigidas", diz o advogado.

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